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Única saída da Argentina é saldar a dívida, diz Cavallo

Ex-ministro da Economia de Menen e De la Rúa nega responsabilidade pela crise atual

DE BUENOS AIRES

Domingo Cavallo foi ministro da Economia da Argentina duas vezes: de 1991 a 1996, no governo de Carlos Menen, e, anos mais tarde, durante nove meses, quando Fernando de la Rúa era presidente.

Ficou conhecido pela forma como combateu a inflação --atrelando o peso ao dólar -- e pelo "corralito", medida que impedia os correntistas de sacarem dinheiro.

A gestão de Cavallo foi apontada pela presidente Cristina Kirchner, em discurso em rede nacional na segunda (16), como responsável pela dívida de US$ 81 bilhões que a Argentina decidiu não pagar no fim de 2001.

Parte dela é reclamada agora pelos credores que não aceitaram as reestruturações que o país promoveu.

Em entrevista à Folha, Cavallo negou responsabilidade pela crise da dívida e disse que a única saída para o país é saldar os débitos. (FELIPE GUTIERREZ)

Folha - A presidente Cristina disse que a dívida que gerou a crise atual é uma herança dos anos 1990, quando o senhor era ministro da Economia. O sr. refuta isso?

Domingo Cavallo - Essa é uma mentira. Qualquer um que conheça a evolução da dívida até o ano de 2001 e depois disso, com Eduardo Duhalde e Néstor Kirchner, podem concluir que o desmando na crise foi nos 13 anos seguintes. E não da década de 1990, quando havia uma relação normal com os mercados e se pode financiar investimentos no país.

Tudo o que aconteceu de 2002 em diante foi desorganizar a economia. Uma atitude irresponsável de gasto público desordenado, congelar tarifas de serviços públicos e pegar enormes subsídios. Pararam os investimentos em estrutura energética do país. Agora temos uma inflação alta e conflitos com credores.

A insistência na dolarização não levou ao calote?

Não. A dívida é por deficit fiscal, e a dolarização evitou que a dívida aumentasse muito mais. Isso não tem nenhum fundamento. O Brasil tinha uma relação de dívida por PIB mais alta do que a Argentina e, quando desvalorizou o real, não entrou em default. Nenhum país sério faz isso e muito menos transforma os contratos em dólares em contratos em peso. O problema da decisão de agora tem a ver com a anormalidade dos termos para pagar a dívida e a maneira intempestiva de tratar a economia.

E o "megacanje" [manobra que Cavallo fez quando era ministro, em que aumentou os juros da dívida para postergar os prazos de vencimento]?

O "megacanje" pretendia, justamente, evitar o "default". O problema que enfrentamos agora ocorre porque a Argentina deu o calote.

O sr. disse, em carta aberta à presidente, que o pronunciamento dela estava cheio de hipocrisia. Por quê?

Ela falou aquelas coisas sobre a dolarização. Quando eu era ministro, Néstor Kirchner era governador de Santa Cruz, e ela [Cristina], senadora. Os dois vinham frequentemente falar comigo para compreender a economia. Eram os melhores alunos da política dos anos 1990.

Qual é a saída para essa crise da dívida?

Não há outra alternativa a não ser sentar à mesa e discutir datas e valores a pagar. Não tem outra alternativa. Se essa gente, chamada de "fundos abutres", for minimamente razoável, estará disposta a negociar uma forma de pagamento. A Argentina não tem alternativa a não ser saldar essa dívida.

Há condições para isso?

A Argentina tem uma dívida de US$ 200 bilhões. O que parece é que a dívida vai ser de US$ 215 bilhões. Não se pode pagar esses US$ 15 bilhões em efetivo porque não há reservas. Mas, se os credores derem prazos razoáveis, o país conseguirá cumprir.


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