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O Brasil que trabalha

Sem inovar, indústria patina e busca técnico

Para melhorar competitividade, setor automatiza fábricas, mas estanca ao abrir mão de pesquisa e sofisticação

Parque nacional passa a preferir produção de itens menos elaborados; ponte entre educação e emprego ainda é falha

ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO

Mais trabalhadores no chão de fábrica, mais técnicos e engenheiros, menos operadores de máquinas, menos pesquisadores.

Em crise nos últimos anos, a indústria tenta se modernizar e melhorar a competitividade, mas esbarra em sua reduzida capacidade para investir. Isso se refletiu nas mudanças na estrutura de emprego no setor.

As demissões de operadores dos mais variados tipos de máquinas superaram em muito as contratações desse tipo de profissional entre 2007 e 2013.

O saldo de vagas de operadores de máquinas fixas em geral ficou negativo em 44,5 mil no período. Foram eliminadas ainda quase 15 mil vagas de operadores de betoneiras, 8,7 mil postos de operadores de caldeiras e outros 8,3 mil de operadores de máquinas operatrizes.

Como resultado, a família de profissões agrupada como "operadores de máquinas a vapor e utilidades" era a 44ª maior (em um total de 577) em número de profissionais empregados em 2007 e, cinco anos depois, estava em 54º lugar. Já o grupo "operadores da fiação" despencou da 166ª para a 225ª posição.

AUTOMATIZAÇÃO

A eliminação de operadores --postos de média especialização-- é explicada pelo investimento em máquinas que automatizam parte do trabalho das fábricas.

Mas esse movimento foi acompanhado por mais contratações de alimentadores de linha de produção, conhecidos como trabalhadores de chão de fábrica.

O cargo teve o segundo maior saldo de vagas geradas entre 2007 e 2013. Com isso, subiu do sexto para o quinto lugar na lista de famílias de ocupação por estoque de empregados entre 2007 e 2012.

"Esses dados indicam que a composição do emprego na indústria está mais apoiada nos estamentos de menor qualificação", afirma o economista David Kupfer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do BNDES.

Segundo Kupfer, isso ocorre porque a indústria investe em uma modernização parcial, que não engloba toda a linha de produção. Como, por exemplo, comprar uma máquina que aumenta a capacidade de produzir, mas não investir em outros equipamentos que acelerariam os processos de alimentá-la com matéria-prima e retirar dela os produtos prontos.

Isso reduz a capacidade de aumento da eficiência da indústria em um mundo mais globalizado e competitivo.

Uma tentativa do setor de reagir se deu com o aumento nas contratações de profissionais especializados.

O movimento não se limitou ao conhecido boom na busca por engenheiros. Entre 157 especializações de técnicos reconhecidas pelo Ministério do Trabalho, 129 contrataram mais do que demitiram entre 2007 e 2013.

No caso dos tecnólogos, entre 25 tipos, apenas três tiveram saldo negativo de vagas geradas no período.

Áreas como segurança do trabalho, informática, eletrônica, vendas e telecomunicações se destacaram na geração de vagas.

Um estudo recente do Banco Mundial mostra que profissionais com formação técnica de nível secundário têm um salário por hora, em média, 9,7% maior do que os que concluíram apenas o ensino médio regular no Brasil.

Já os tecnólogos recebem, em média, o mesmo que os profissionais com diploma do ensino superior tradicional.

"A educação técnica tem a grande vantagem de oferecer uma formação mais rápida", diz o economista Naercio Menezes Filho, do Insper, um dos autores do estudo.

Uma das barreiras ao crescimento desse tipo de formação, dizem especialistas, é o fato de que o curso técnico, no Brasil, não substitui o ensino médio. Precisa ser cursado em paralelo ou depois.

Outro problema, afirma o economista Simon Schwartzman, é a pouca integração entre empresas e escolas e faculdades: "O ideal é que houvesse uma maior aproximação entre empregadores e educadores na definição de currículos que atendam à necessidade do setor privado".

Esses fatores fazem com que a oferta de mão de obra técnica ainda seja limitada.

PRODUÇÃO BÁSICA

Do lado da demanda, também há problemas que freiam a busca por trabalhadores mais qualificados no país.

Em crise, a indústria brasileira está cada vez mais pautada na produção de bens mais simples.

Isso dificulta a passagem do Brasil por um processo que ocorre em países como os Estados Unidos, onde cresce tanto a demanda por serviços menos sofisticados por parte das famílias como por aqueles de ponta que atendem ao setor industrial.

"Como nossa indústria está cada vez mais básica e perde densidade, não demanda serviços mais sofisticados, que empregariam mão de obra superqualificada", diz o economista Jorge Arbache, da Universidade de Brasília (UnB) e do BNDES.

Um dos reflexos disso é o baixo estímulo ao setor de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e de outros serviços muito qualificados.

Entre 2007 e 2012, os profissionais ocupados na família de profissões de P&D experimental em ciências físicas e naturais cresceu apenas 5,5%. No mesmo período, o estoque de mão de obra empregada em P&D experimental em ciências sociais e humanas recuou 41,4%.


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