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Crítica setor automotivo
Autora revela os bastidores da história da Fiat e ignora Brasil
A jornalista americana faz uma apuração minuciosa que ajuda o leitor a entender fatos históricos da Fiat
É surpreendente imaginar uma combalida Itália no comando de uma nação ainda hegemônica como os EUA. Poucos acreditavam na viabilidade do plano de Sergio Marchionne, presidente-executivo da Fabbrica Italiana Automobili di Torino (Fiat), de adquirir fatia da Chrysler em 2008 e tirá-la da falência. Parecia loucura.
Mais surpreendente por ser a Fiat, recém-saída de uma crise que quase encerrou a sua própria história.
Talvez até Marchionne tivesse dúvidas do negócio, mas não deveria ter. A Fiat precisava de um parceiro para ganhar competitividade global. A Chrysler, para sair da falência.
Quando os mais de cem representantes italianos voaram para os EUA para ensinar aos colegas da Chrysler o método de produção Fiat, mais enxuto e eficiente, a visão de Marchionne aos poucos ficava clara.
Ambas as empresas tinham muito a compartilhar. Daí a coerência de um negócio que recebeu apoio até do presidente Obama.
Jennifer Clark, repórter do grupo do "Wall Street Journal", não esperou o desenrolar completo da parceria ítalo-americana para detalhar histórias da negociação no livro "Nos Bastidores da Fiat".
Sua percepção de que a retomada do grupo italiano merecia um relato maior nasceu antes, em 2007, quando a recuperação parecia inevitável.
As 150 entrevistas conduzidas pela jornalista e os seus 12 meses de dedicação ao projeto entregam uma apuração minuciosa que ajuda o leitor a compreender fatos históricos da Fiat, como a atual parceria.
A começar pelo perfil dos controladores, os Agnelli, uma saga familiar à la Kennedy: recheada de tragédias, sucessos, litígios e personagens idiossincráticos.
Fatos como o suicídio de um potencial herdeiro, membro do clã, dariam livros à parte, muitos deles já escritos. Na obra de Clark, contundo, são um brinde.
Mais impressionante talvez é notar, a partir dos relatos históricos, como passos semelhantes aos da parceria com a Chrysler permeiam a trajetória da Fiat.
Em mais de 100 anos, a empresa sobreviveu a bombardeios de guerra, ataques terroristas, tormentas trabalhistas e abismos financeiros.
Sua importância para a Itália está descrita em episódios como o do início dos anos 2000, quando a exposição de endividamento dos bancos italianos à dívida do grupo gerou preocupações sobre a estabilidade do sistema financeiro do país. Relevância traduzida com clareza pela autora em exemplos de negociações com líderes políticos, de Mussolini a Berlusconi.
O leitor brasileiro sentirá falta de citações específicas sobre um dos principais mercados da montadora. O país, cobiçado hoje pelos principais grupos do setor e onde a Fiat é líder, é citado de forma genérica, duas vezes.
Se ao final permanecerem questionamentos sobre a omissão, a saga familiar, os esbarrões na história italiana e os ensaios sobre a indústria automotiva terão valido a pena.
NOS BASTIDORES DA FIAT
AUTOR Jennifer Clark
EDITORA Saraiva
QUANTO R$ 49,00 (350 págs.)
TRADUÇÃO Leandro R. Woyakoski
AVALIAÇÃO Bom
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