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Benjamin Steinbruch

Avanços e dificuldades

Não faz sentido sabotar a iniciativa correta da presidente de reduzir o elevado custo da energia

Em plena "Black Friday", promoção tradicional do comércio americano importada pelo Brasil, li relatório sobre a evolução das vendas do varejo brasileiro em 2012. E elas vão bem. Nos três primeiros trimestres do ano, cresceram 8,9% em termos reais quando comparadas ao mesmo período do ano passado.

Esses dados se referem ao que se chama de "comércio restrito", que não inclui a venda de automóveis, autopeças e material de construção. O "comércio amplo", que engloba esses três setores, também cresceu a uma taxa significativa, de 7,8%.

O crescimento de vendas se dá em quase todas as áreas do comércio: material de informática e comunicação, móveis, eletrodomésticos, artigos farmacêuticos, automóveis etc. Contribuição significativa veio também de uma área indicativa da expansão do consumo familiar, a dos produtos de supermercados e hipermercados, incluindo alimentos e bebidas. Nesse segmento, as vendas tiveram o maior crescimento (8,9%) desde que o IBGE iniciou sua pesquisa, em 2001.

As razões dessa expansão de vendas do comércio não são segredo. São a manutenção e até a expansão do nível de emprego e o crescimento da renda, principalmente pela elevação do salário mínimo real.

Os números do comércio, porém, contrastam com os da indústria, embora esta tenha apresentado recentemente uma ligeira reação. Enquanto o comércio restrito cresceu 8,9% nos três primeiros trimestres, a indústria teve uma contração de 3,4% na produção desses itens. No caso do comércio ampliado, essa comparação é de 7,8% para -2%.

Por que o crescimento das vendas no varejo não puxa a produção industrial? A resposta é igualmente conhecida. Apesar da taxa de câmbio mais favorável, há mais de seis meses acima de R$ 2, a indústria brasileira continua perdendo mercado interno para produtos importados, muitos subsidiados na origem. Entre parêntesis, dias atrás fiquei curioso ao ver em um hipermercado de São Paulo uma pilha de enormes caixas de papelão de mais de um metro de comprimento. Fui verificar: eram árvores de Natal "made in China", um país em que nem existe o feriado de Natal. Além das tradicionais luzinhas chinesas, importamos agora árvores e bolas.

Que a indústria brasileira perdeu competitividade, não só por causa do câmbio, é uma realidade. São muito preocupantes os números que mostram a contínua queda de investimentos da indústria, porque isso compromete a capacidade produtiva dos anos vindouros.

Nunca foi e nunca será meu objetivo, porém, espalhar pessimismo. Não se pode deixar de observar que, em plena crise global, com o PIB brasileiro avançando apenas 0,6% no terceiro trimestre, a demanda interna cresce, como vimos acima, o nível de emprego vem sendo mantido, a renda aumenta e até está mais bem distribuída no país.

Li com agradável surpresa, na semana passada, uma reportagem do "Valor" mostrando que o Brasil foi o país que melhor utilizou o crescimento econômico para elevar o bem-estar da população entre 2006 e 2011. A conclusão é da Boston Consulting, que comparou indicadores de 150 países. Esse reconhecimento decorre, principalmente, da melhor distribuição da renda e da redução da pobreza.

Há enormes desafios para que o país persista nesse caminho. Além da pragmática política cambial e da consumação da política de redução dos juros, porque os efeitos ainda são modestos para os tomadores de empréstimos, é preciso fazer reformas: melhorar a qualidade da educação e da formação profissional; investir na infraestrutura; reduzir impostos; flexibilizar o mercado de trabalho; romper entraves burocráticos que emperram os investimentos públicos e privados; e superar desentendimentos federativos que levam a guerras fiscais fraticidas.

Enxergar só essas dificuldades, porém, sem reconhecer os avanços é pessimismo doentio ou ideológico, que às vezes leva alguns grupos a jogar contra os interesses do país.

Não faz o menor sentido, por exemplo, sabotar, em defesa de privilégios de estatais ineficientes, a iniciativa correta e corajosa da presidente Dilma Rousseff de reduzir o elevado custo da energia elétrica, um dos principais fatores responsáveis pela perda de competitividade da indústria brasileira.


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