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Análise

Suspeita provoca medo, mas não há risco de virar apocalipse sanitário

IGOR GIELOW SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de anúncios de que não há risco para a saúde pública quase sempre inspirarem temores em contrário, não há evidências ainda de que o Brasil corra perigo de viver situação semelhante à do Reino Unido em 1996, quando a doença da vaca louca ganhou as manchetes.

No fim de março daquele ano, o governo britânico anunciou que havia uma nova variante do mal de Creutzfeldt-Jakob na praça. Dez jovens com idade média de 27 anos tiveram a doença, que mata em seis meses por degeneração do cérebro.

O tecido cerebral das vítimas dissolve, transformando o órgão numa esponja -daí o nome de encefalopatia espongiforme- e criando todo tipo de demência e deficiência motora. Antes, a doença era só genética, rara, e com vítimas de quase 70 anos.

Mas o governo admitiu que era possível a ligação entre a nova doença e o mal da vaca louca, a forma da encefalopatia que atinge os bovinos, pelo consumo de carne.

Houve pânico. Redes de fast food pararam de vender hambúrgueres britânicos, e prateleiras com outras fontes de proteína esvaziaram nos mercadinhos de esquina. Tabloides e jornais mais sérios previram uma hecatombe.

Com a histeria, a União Europeia e outros países vetaram a carne britânica.

O Reino Unido teve de sacrificar 40% de seu rebanho bovino e o consumo do produto caiu em mais de 25% em relação a 1995. A conta foi estimada em até 0,3% do PIB do país, uma enormidade.

O problema residia na forma com que o gado britânico fora alimentado ao longo de décadas. Como a soja não cresce bem na Europa, a suplementação proteica da ração bovina era feita com a adição de carcaças ovinas.

Ocorre que os ovinos podem portar um agente biológico bizarro, chamado príon. Trata-se de uma proteína infecciosa, de difícil definição, pois age como um ser vivo, mas não contém DNA ou RNA, como o resto deles.

Por mais de 200 anos os ovinos britânicos desenvolviam ocasionalmente a "scrapie", a sua encefalopatia espongiforme. Em 1986, houve um surto de mal da vaca louca, e descobriu-se que a causa era a infecção pelo príon dos ovinos, que sobreviviam nas medulas e cérebros das carcaças da ração bovina.

Para baratear custos, no Reino Unido as temperaturas de fervura de carcaças eram menores. Isso ajudou o príon a migrar de espécie e chegar ao homem por meio do consumo de carne contaminada.

O pânico multimilionário não se traduziu, contudo, em tragédia humana de larga escala. Segundo a OMS, de 1996 até hoje houve 280 casos da variante humana da doença, 176 no Reino Unido, longe de um apocalipse sanitário.


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