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Cifras & Letras

CRÍTICA EMPRESA

Livro trata do escândalo da Olympus com ares de saga

Ex-presidente da companhia conta a vida de um estrangeiro no mundo dos negócios do Japão

RODOLFO LUCENA DE SÃO PAULO

SEU TEMPO ACABOU, MAS OS EFEITOS DA FRAUDE E DAS AÇÕES DE WOODFORD CONTINUAM A SER SENTIDOS

No início de julho do ano passado, uma reportagem do jornal britânico "Financial Times" comentava o crescimento da comunidade de executivos estrangeiros no mundo corporativo japonês.

Com a ascensão do britânico Michael Woodford, primeiro presidente estrangeiro da empresa de equipamentos médicos e câmeras fotográficas Olympus, chegava a cinco o número de gaijins (estrangeiros) no comando de corporações nipônicas.

O longo texto, de natureza quase laudatória, falava um pouco dos demais líderes, mas era centrado nele.

Então com 51 anos, Michael Woodford tinha uma trajetória de mais de 30 anos na empresa; galgara os escalões corporativos ganhando fama como hábil e implacável cortador de custos (e de empregos, o que lhe valera o apelido de Darth Vader, o líder maléfico da série "Guerra nas Estrelas"); e não tinha pejo de falar o que pensava.

Parte de sua missão, disse ao "FT" na época, era mudar a cultura da Olympus. "Consenso e harmonia têm seu lugar e hora, mas escrutínios e inquirições -ser o advogado do diabo- contribuem para um processo de decisão melhor", afirmou, no que hoje parece uma fase profética.

Poucos dias depois, antes do fim daquele mês de julho, receberia por e-mail uma mensagem que iria mudar sua vida e revirar a Olympus.

Uma pequena publicação chamada "Facta" saíra com reportagem apontando fraude biliardária na empresa.

A diretoria da corporação parecia pretender passar olimpicamente sobre a questão, mas Woodford resolveu começar a fazer perguntas.

A história ganhou manchetes em jornais do mundo inteiro e culminou com a prisão de alguns dos principais executivos da empresa e membros do conselho, além de punições para a companhia.

O desenrolar do processo tem ares de saga e é contado com detalhes pelo britânico em "Exposure" (Relevação).

O livro pode ser lido como uma novela de suspense. Talvez uma trama engendrada pelo rei dos livros de tribunal, John Grisham, ou um episódio de "Gaijin", romance épico de James Clavell que trata das aventuras de um estrangeiro no mundo dos negócios do Japão, tudo temperado com sexo e violência.

Aventuras românticas não chegam às páginas de "Exposure", mas a violência é latente -ou, pelo menos, o medo da violência, pois as fraudes financeiras teriam conexões, nunca provadas, com o crime organizado, a temível Yakuza, a máfia japonesa.

Ao mesmo tempo, o minucioso relato discute práticas administrativas e a chamada governança empresarial -e mostra como o secretismo pode ser danoso para as corporações.

CONDENAÇÃO

O texto funciona como uma condenação ao que ele chama de estilo japonês de administrar e dá pistas de que mudanças precisam ocorrer não apenas em uma ou duas empresas mas no mundo corporativo como um todo.

Ainda que tais aspectos sejam relevantes, é na toada das trapaças, denúncias, encontros secretos e golpes em reuniões de diretoria que "Exposure" ganha vida e ritmo.

Este, às vezes, é quebrado por avaliações maniqueístas, em que os parceiros e apoiadores do autor são praticamente incensados.

Já outros importantes figurantes -jornalistas, advogados, grupos de mídia e auditorias- são mostrados com o que parecem ser cores mais realistas: às vezes são "bons", outras tantas são "do mal" ou mesmo cúmplices, pelo silêncio, de crimes e trapaças.

Woodford cumpriu pouco mais de meio ano na presidência da corporação -foi empossado no Dia da Mentira e demitido em 14 de outubro de 2011 em uma breve reunião de diretoria, "uma execução corporativa em oito minutos", como define no livro.

Seu tempo acabou, mas os efeitos da fraude e das ações de Woodford continuam a ser sentidos pelo ex-executivo e pela corporação. Em junho último, fechou acordo com a empresa para receber 10 milhões de libras (mais de R$ 30 milhões) como indenização.

Também naquele mês, a Olympus anunciou planos para cortar 2.700 vagas (7% da força de trabalho global) até 2014 como parte de seu projeto de redução de custos e reestruturação corporativa.


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