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Cifras & Letras

Crítica CLT

'Trabalhadores precisam de mais direitos', diz sociólogo

Segundo autor, precarização absorve impacto da desaceleração sobre o emprego

O fluxo de capital das empresas para os proprietários de ativos financeiros enfraquece os ganhos de produtividade

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

Na discussão sobre mudanças na CLT, "os trabalhadores precisam de mais direitos, não de menos".

A avaliação é do sociólogo Ruy Braga, 40. Para ele, o trabalho precário tem absorvido o impacto da forte desaceleração da economia no mercado de trabalho. Mas a manutenção do anêmico crescimento deve provocar desemprego no próximo ano.

Professor da USP, ele lança "A Política do Precariado" (Boitempo), que trata do "proletariado precarizado", de sindicalismo, de greves e de história. Confira os principais trechos da entrevista.

Folha - Com o atual ritmo da economia brasileira o sr. prevê aumento do desemprego e queda nos salários?
Ruy Braga - É provável. Além das medidas do governo, como a desoneração da folha salarial em alguns setores, o mercado de trabalho brasileiro é muito flexível.
Apesar de o assalariamento formal ter aumentado na última década, o emprego precário, isto é, as ocupações em que se encontram os trabalhadores marginalmente ligados à População Economicamente Ativa, ainda é muito numeroso, absorvendo o impacto da atual desaceleração sobre o emprego.
No entanto, se essa tendência persistir, muito provavelmente haverá demissões no próximo ano e a taxa de desemprego deve aumentar.

Como o sr. define o precariado?
É o proletariado precarizado. São trabalhadores que entram e saem muito rapidamente do mercado. São jovens à procura do primeiro emprego, indivíduos que estão na informalidade e desejam alcançar o emprego formal, além de trabalhadores subremunerados e inseridos em condições degradantes.
É formado pelo setor da classe trabalhadora pressionado pelo aumento da exploração econômica e pela ameaça da exclusão social.

Quais os efeitos da chamada ascensão social de camadas mais pobres nos últimos anos no movimento sindical?
O número de greves nos anos 2000 refluiu para um nível historicamente baixo. No entanto, a partir de 2008, a atividade grevista voltou a subir, alcançando, em 2011, o mesmo patamar do final dos anos 1990. A atividade grevista deve aumentar, pois a relação do precariado com o atual modelo é ambígua.
Por um lado, há uma certa satisfação com o consumo, em especial, de bens duráveis. Os salários continuam baixos, as condições de trabalho, muito duras, e o endividamento segue aumentando.
O precariado está inquieto, percebe que o atual modelo trouxe certo progresso, mas conclui que esse progresso é transitório. Até o momento, o precariado não identificou alternativas à hegemonia lulista. Mas está à procura.

Como explica os movimentos grevistas que ocorrem em hidrelétricas e obras do PAC?
São motivados pelas condições de trabalho. Em vez de representar os trabalhadores, o movimento sindical lulista optou por pacificar os canteiros.

Como explicar o silêncio da CUT após a empreiteira Camargo Corrêa demitir no ano passado 4.000 trabalhadores em Jirau, poucas horas após um acordo ter sido celebrado entre a empresa e a central?
É evidente que existem interesses comuns entre as empreiteiras e o movimento sindical. Quem são os principais investidores institucionais das obras do PAC? Os fundos de pensão controlados por sindicalistas governistas.

O sr. afirma que, na empresa brasileira, o trabalho se transformou no principal instrumento do ajuste anticíclico e anti-inflacionário da rentabilidade dos ativos. Por quê?
Com inovações em processos, produtos... O problema é que o fluxo de capital das empresas para os proprietários de ativos financeiros enfraquece os ganhos de produtividade. A financeirização das empresas contribuiu para degradar o trabalho e enfraquecer a inovação tecnológica.

O sr. constata que a legislação trabalhista foi fruto de conquista. Como avalia a atual pressão empresarial para mudanças na CLT?
É preciso mudar a CLT, mas não naqueles pontos advogados por empresários e sindicalistas governistas.
Aqueles que clamam pela reforma da CLT pensam apenas em flexibilizar o trabalho. Na realidade, a força de trabalho brasileira é muito barata, e nosso mercado de trabalho, excessivamente flexível. Necessitamos de uma cláusula contra a demissão imotivada. Os trabalhadores precisam de mais direitos, não de menos.

A POLÍTICA DO PRECARIADO
AUTOR Ruy Braga
EDITORA Boitempo
QUANTO R$ 39 (264 págs.)

Leia a íntegra em
folha.com/no1209261


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