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Perfil - Renato Soares de Paula

O triturador do futuro

Atropelado pela concorrência no mercado de produção de cartões magnéticos, empresário reverteu o jogo ao inventar uma máquina para picar os bilhetes e permitir a reciclagem de materiais como chip e plástico

FILIPE OLIVEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Aos 44 anos, Renato Soares de Paula sentiu a gravata apertada, o sapato desconfortável e pouca vontade de trabalhar. Tudo por causa da falta de rumo pela qual sua empresa passava.

A RS de Paula, que há 15 anos fabrica cartões, tinha dificuldades de acompanhar o avanço tecnológico do setor.

Enquanto Renato produzia 1 milhão de cartões por mês, empresas médias do mercado faziam a mesma quantidade em um dia.

"Pensei em comprar caçamba, entrar no mercado de entulho. Não sabia para que servia minha experiência."

O desânimo contrasta com o entusiasmo de agora, um ano depois. "Coloquei tudo o que sabia em um balde, triturei, transformei em uma massa que ninguém queria e criei algo novo."

Triturar e reciclar é exatamente a novidade. Sua invenção é uma máquina para cortar cartão magnético. Basta colocá-lo em uma entrada sobre a máquina e girar uma manivela que ele é picado em listras paralelas.

Renato diz que, em geral, as pessoas costumam quebrar seus cartões usados e, na melhor das hipóteses, descartar como lixo reciclável.

Porém, junto com outros plásticos, o cartão magnético acaba sendo pouco reaproveitado e se torna lixo para o reciclador, diz.

Já o que ele recolhe é mais tarde triturado em pedaços menores. Cada material do cartão é separado (chip, plástico e tarja magnética).

A seguir, o plástico é enviado a uma recicladora e derretido. Transformado em chapa, é usado mais tarde para fazer brindes, como réguas, calendários e novos cartões.

Chips e tarjas magnéticas viram capas de cadernos e porta-retratos. O resultado é uma espécie de mosaico, em que se pode enxergar pedaços de cartão coloridos, partes metálicas e até letras de nomes de antigos donos.

Quatro das 13 trituradoras em atividade estão em estações do metrô de São Paulo (Sé, Conceição, Paraíso e Consolação).

Além de fazer a coleta, também servem de espaço publicitário para as empresas que emitem cartões.

Renato sonha espalhar suas máquinas: procura parcerias com bancos para que as instalem em agências. E, com autoestima renovada, quer conversar de igual para igual.

"Quando você é uma empresa pequena e chega um grande com um pedido, ele manda. Agora não é mais assim. Nós temos um projeto único de sustentabilidade."

Renato conta que iniciou o projeto com R$ 5.000 que tinha no momento. Logo viu que precisava de mais.

"Fui atrás de uma máquina de macarrão. Fiz um desenho e levei até um amigo que tem equipamentos para trabalhar com metal. Custou R$ 15 mil e deu errado."

Mas a experiência foi o suficiente para ele acreditar que seu projeto poderia dar certo. Para ir frente com as tentativas, Renato procurou uma linha de crédito de capital de giro de R$ 250 mil do BNDES.

A primeira resposta positiva veio do Metrus, instituto de seguridade dos metroviários. Como programa-piloto, construiu máquinas itinerantes para circular em todas as estações e serem usadas pelos funcionários.

O empresário que até agora já recolheu uma tonelada de material.

CHÃO DE FÁBRICA

Renato também já passou por crises existenciais, com a pergunta "Sou ou não sou empresário?"

"Sabia tudo da fábrica, me sentia empresário. Estava sempre sujo de graxa. Não sou de ficar atrás da mesa. Sou um cortador?"

O gosto pela fábrica vem da juventude. Aos 16 anos, Renato criou sua primeira empresa junto com o irmão, para fabricar "shapes" (tábuas) de skate. Para isso, usavam a marcenaria do pai.

O negócio ia tão bem que ele estudou comércio exterior para exportar os equipamentos. Mas veio o Plano Collor e as vendas pararam, conta.

Depois foi representante de uma empresa que vendia etiquetas adesivas. Decidiu criar a RS de Paula, usando a experiência de montagem de skates, para assumir uma encomenda de etiquetas em formato de cartão que a empresa havia recusado, diz.

Agora, com a reciclagem, diz ter achado seu lugar como criador de inovação.

"Foi uma terapia sem fazer consulta ou tomar remédio. Mas acho que agora preciso. Não para me motivar, porque eu iria explodir, mas para controlar a ansiedade."

E, para se curar de vez, Renato triturou os cartões do tempo em que as coisas não iam tão bem.


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