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Análise

Ociosidade generalizada da economia não deve se repetir

Tivemos uma espécie de tempestade perfeita que encontrou a indústria despreparada

OCTAVIO DE BARROS ESPECIAL PARA A FOLHA

Há boas razões para apostar que a dinâmica da economia brasileira em 2013 será substantivamente diferente da de 2012. Basta reconhecer que no ano passado tudo que poderia dar errado deu errado. A convergência de problemas simultâneos que tivemos em 2012 dificilmente se repetirá neste ano, pelo menos na mesma intensidade.

Tivemos uma espécie de tempestade perfeita que encontrou a indústria brasileira despreparada e pouco competitiva para enfrentar uma queda tão significativa da demanda externa e a forte presença externa no seu próprio mercado (decorrente da sobreoferta global de produtos manufaturados que persiste, ainda que em menor intensidade) e também profundamente afetada pela pressão de custos de mão de obra decorrentes de uma estrutural mudança no mercado de trabalho por razões estritamente demográficas.

A forte depreciação cambial de 2012 também pegou a indústria brasileira desavisada, com base forte de fornecedores externos que ficaram mais caros. Portanto, a marca registrada do ano foi a ociosidade generalizada da indústria e da economia em geral. Isso também mudou.

A ociosidade não existe mais. Todos os setores industriais, com raras exceções, já operam com níveis normais de estoques. Essa é a garantia de que a indústria deve se recuperar depois de queda de produção de 2,75% em 2012.

A recuperação esperada da indústria tende a mais do que devolver a queda do ano passado e isso terá um significado importante para a economia como um todo porque, apesar do peso pequeno no PIB, a indústria é difusora de atividade ("leading") para os demais setores.

No ano em curso, já estamos assistindo uma normalização dos investimentos. Esses ficaram profundamente afetados em 2012 por razões óbvias: ninguém investiria operando em ociosidade.

Devem também ter tido algum impacto no investimento alguns ruídos relativos às escolhas de políticas para os setores elétrico e de petróleo.

A reação muito negativa dos investidores, sobretudo estrangeiros, no mercado de "equity", reverberou em todos os demais mercados, criando uma percepção de intervencionismo que, ao que tudo indica, começa agora a ser revertida com ações amigáveis na mobilização do setor privado em projetos de investimento, particularmente em infraestrutura.

Outro ponto a mencionar é que possivelmente não deveremos ter surpresas na política econômica, na medida em que as surpresas possíveis em termos de política monetária e cambial ficaram todas no ano passado.

O governo considera os patamares atuais de juros e de câmbio como "territórios já conquistados em batalha" e não recuarão muito dessas trincheiras.

Salvo se a inflação de 2013 de fato ameaçar interromper a escadinha descendente supostamente em curso: 6,5% em 2011, 5,8% em 2012 e algo entre 5% e 5,5% em 2013.

Ameaçada essa trajetória, os juros mais altos inevitavelmente deverão ser acionados, ainda que com uma métrica diferente da dos ciclos monetários anteriores.

Nosso cenário é de que a inflação possa ser levemente declinante a despeito da retomada da atividade, devido a menores pressões de alimentos, cambiais e do consumo de serviços.

Resumo: o governo tinha dez botões para apertar em 2012 e apertou todos os dez.

Em um ambiente de menores surpresas externas e internas, desde que acompanhado de mensagens contundentes na mobilização do setor privado nos investimentos de infraestrutura, 2013 poderá se revelar um efetivo ano de transição a favor de um ciclo mais normal de investimentos e de crescimento.

OCTAVIO DE BARROS é diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Banco Bradesco.


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