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Em Buenos Aires, ter doméstica todos os dias é exceção
Morador de classe média lava suas roupas em casas especializadas e tem costume de comer fora de casa
Trabalho doméstico é em geral feito por imigrantes do Paraguai, do Peru e da Bolívia e custa R$ 16 por hora
Jorgela Gamarra, 53, trabalha há 24 anos em casas de família do bairro da Recoleta, em Buenos Aires. Desde que chegou de Oruro, sua cidade-natal, na Bolívia, Jorgela disse que nunca ficou sem emprego, mas também jamais foi registrada.
Atualmente, trabalha cerca de dez horas todos os dias, em quatro casas diferentes, e vive na Villa 31, favela localizada no centro da cidade.
"Prefiro as casas com criança, porque obrigam a ficar mais horas e ganha-se um pouco mais", conta à Folha.
Os trabalhos de empregados domésticos contratados pela classe média na Argentina em geral são assim.
Paga-se por hora (cerca de US$ 8, R$ 16) e o empregado vai uma ou, no máximo, duas vezes por semana na casa do empregador.
Somente as classes mais favorecidas têm empregados "full-time" e contratados. São uma verdadeira exceção.
O trabalho doméstico é predominantemente realizado por imigrantes de países vizinhos, como o Paraguai, o Peru e a Bolívia.
Como a maioria é contratada sem documentos, não há levantamentos precisos.
Apenas uma central sindical, a CTA (Confederação dos Trabalhadores da Argentina), aceita trabalhadores não registrados em sua agremiação, mas não possui números.
Em geral, o portenho de classe média leva uma vida quase europeia em relação a empregados domésticos. Lava-se a roupa em casas especializadas -há uma em praticamente cada quadra- e come-se muito fora de casa, do café da manhã ao jantar.
As poucas horas na semana em que têm um empregado em casa é para limpá-la.
"Eu guardo todas as minhas economias em casa, como vou confiar em empregados?", diz Ana Mejía, 68.
A preocupação da comerciante aposentada é compartilhada por muitos. Na Argentina, país em que os bancos colapsaram em 2001, a confiança nessa instituição é baixíssima, e as pessoas se acostumaram a guardar dinheiro em em cofres ou armários com chave, em casa.
É o famoso "colchón bank" argentino. Com isso, a desconfiança com relação a estranhos aumentou e as pessoas preferem ter os empregados por menos horas.
"Quase nunca me deixam sozinha. Eu trabalho com a patroa sempre com um olho em mim e outro no que estiver fazendo", diz Jorgela.