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'Pareciam fogos', lembra brasileira ferida
Carolina Feijó, 29, foi atingida por estilhaços da bomba na perna e levada a um hospital de Boston, mas não corre perigo
Outros brasileiros dizem que sofreram problemas nos tímpanos; carioca diz lembrar de muitas pessoas ensaguentadas
A explosão perto da chegada da maratona de Boston atingiu três amigas brasileiras, que acabavam de tirar um foto logo no lugar da explosão. Carolina Feijó, 29, é oficialmente a única brasileira ferida nos atentados da última segunda-feira.
Estilhaços da bomba atingiram a sua perna. Ela ficou menos de uma hora em um hospital e foi liberada. Mas chorou diversas vezes e diz que ainda está bem abalada.
"Pensei que fossem fogos de comemoração, mas aí surgiu aquela neblina de fumaça, vi sangue por todos os lados, foi horrível. Fechei os olhos e botei a mão nos ouvidos. Não sabia para onde fugir. Fiquei com pena da polícia, eles queriam ajudar, mas não sabiam o que fazer", conta Carolina, de Niterói.
Ela conseguiu buscar refúgio em uma ótica vizinha e foi amparada por uma vendedora também brasileira. "Comecei a chorar quando vi que ela era brasileira, era o que eu estava precisando". Ela mora há cinco anos na cidade.
A amiga Cristina Pitanga, 40, sem ferimentos, teve uma experiência ainda mais dolorosa. "Senti um pedaço de carne na minha mão e fui raspar numa parede, ensanguentada", conta, e começa a chorar. "Tinha tanta gente ferida do meu lado que eu me perguntava: por que eles estão ensanguentados e eu não? Tenho que agradecer muito a Deus", diz a carioca.
Cristina também foi ao médico, que disse que ela tem o tímpano inchado, por causa da explosão, mas que deve se recuperar em poucos dias.
As amigas brasileiras trabalham no consulado brasileiro em Boston, a poucos quarteirões de distância do local do atentado.
"Os feridos eram espectadores, as arquibancadas ainda estavam cheias, tinha muita criança ali", diz Mary Mello, 49, há 20 em Boston.
O brasileiro Marcelo Wigman, estudante do MIT, assistia à maratona pelo ponto mais próximo que conseguiu alcançar da chegada, no trecho entre as duas explosões.
Na tarde de ontem, ainda sentia a dor nos tímpanos provocada pelo primeiro ruído "seco". A segunda explosão foi menos clara.
"Eu acho que a primeira já machuca o ouvido. Mas depois, até pela desorientação, parecia ter vindo do lugar errado. Percebi a lesão depois que a adrenalina baixou", afirma Wigman, que decidiu não procurar os hospitais enquanto percebe melhora.
Ele diz se lembrar de que presenciou a cena em que crianças abraçavam seus pais e os acompanhavam até o fim da prova. Também viu uma garota, ao seu lado, com sangue na cabeça.
"Uma coisa que me marcou foi a rapidez do aparato de segurança pública. No Brasil, ao contrário, sempre ouvimos que a demora no socorro amplia os danos quando ocorrem grandes tragédias", afirma. (RAUL JUSTE LORES E JOANA CUNHA)