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Marcos Caramuru de Paiva

Nova dinâmica para debates

Não há uma Ásia uniforme, nem política, nem culturalmente. Mas há traços comuns a todos

É difícil para os ocidentais aceitar ser minoria. O Ocidente habituou-se a forjar o pensamento universal. Minorias tendem a ser frágeis, frequentemente demandam proteção.

Isso não se ajusta à maneira como os ocidentais se veem, nem à importância que adquiriram no contexto internacional.

A verdade, no entanto, é que os asiáticos são bem mais numerosos do que nós. E com o aumento do seu peso econômico eles se farão ouvir mais e mais nas próximas décadas, até passar a exercer uma influência visível no encaminhamento dos grandes temas. As novas gerações serão testemunhas dessa virada na história.

Não há uma Ásia uniforme, nem política, nem culturalmente. Mas há traços comuns a todos. Além disso, a ascensão da China e o fato de sua cultura ter influenciado tão fortemente a japonesa e a coreana fazem deduzir que a atitude chinesa será central na definição de uma visão asiática nos debates do futuro.

Tentar entender a lógica oriental e como ela se diferencia da nossa é um dos temas do momento. Muito se tem escrito sobre ele.

Num dos livros interessantes, "A Geografia do Pensamento", o psicólogo Richard Nisbett mostra que os ocidentais têm uma tendência a categorizações, à formulação de regras, à proposição de modelos que expliquem e operem as realidades.

Os asiáticos, por sua vez, acreditam que as realidades são mais complicadas do que parecem. Há múltiplos fatores a influenciá-las e elas estão em permanente mutação. A lógica formal desempenha um papel reduzido na solução dos problemas. Ser demasiado lógico na Ásia pode até soar infantil.

Fatos simples, a meu ver, ajudam a verificar a reflexão de Nisbett. Basta visitar um museu de arte ocidental e um chinês. As artes plásticas ocidentais são apresentadas a partir de grandes movimentos, escolas. Na China, os artistas são exibidos individualmente. Não há preocupação em vinculá-los a uma corrente. Por isso, frequentemente parece-nos tão difícil absorver o que vemos.

O cingapuriano Kishore Mabubani, autor de "Podem os Asiáticos Pensar?" defende que o encolhimento da Ásia nos últimos séculos foi um fato da história. Não será sempre assim.

Os chineses sabem que precisarão aumentar o tom de sua voz. Aprenderão a ser propositivos. Mas não terão um norte ideológico, condutas pré-concebidas, receitas de comportamento. Valorizarão a dinâmica dos relacionamentos e buscarão integrar-se harmonicamente ao que se apresentar. A harmonia é a essência do taoismo: está no coração, no pensamento e no inconsciente de um oriental do Leste.

Possivelmente, quando se expressar com voz de liderança, a China se mostrará imprevisível para parâmetros ocidentais. Estará movida por seus interesses, é óbvio, mas também pelos múltiplos fatores que compõem a ordem mundial.

O mundo se acostumou, ao longo do século 20, à rigidez e à previsibilidade das ideias e propostas norte-americanas. Quer antecipar a forma futura de atuar do novo gigante. Não haverá padrão. E isso vai gerar uma nova dinâmica internacional, à qual o Ocidente terá inevitavelmente que se adaptar.


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