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Irã tem campanha presidencial apática

A menos de dez dias das eleições, não há cartazes de candidatos nem militantes com panfletos nas ruas de Teerã

Desânimo da população contrasta com o clima engajado do pleito de 2009; prioridade é a sobrevivência material

SAMY ADGHIRNI DE TEERÃ

Não há cartazes nem carros de som nas ruas de Teerã. Tampouco se veem militantes distribuindo panfletos. Os comícios são pequenos e ocorrem em lugares fechados.

A campanha para a eleição presidencial de 14 de junho entra em sua reta final num clima de apatia generalizada, contrastando com o entusiasmo popular que eletrizou o país às vésperas da votação anterior, em 2009.

Protestos contra a reeleição do conservador Mahmoud Ahmadinejad naquele ano, após diversas acusações de fraudes, terminaram esmagados pelo regime, que desde então colocou em prisão domiciliar líderes da oposição reformista.

Temendo novos distúrbios, autoridades vetaram comícios nas ruas, derrubaram a velocidade de conexão à internet e reforçaram bloqueios às redes sociais.

Para minimizar o potencial de contestação, o órgão do regime que avalia as credenciais ideológicas dos candidatos aprovou apenas políticos alinhados ao líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, ou sem grande apelo popular.

Numa decisão que frustrou muitos iranianos, dois líderes influentes foram barrados: o ex-presidente centrista Ali Akbar Hashemi Rafsanjani e Esfandiar Rahim Mashaee, assessor que Ahmadinejad queria emplacar por não poder concorrer pela terceira vez.

"De que adianta ter esperança se ela se transforma num soco na cara?", questiona o estudante de física Salar (ele preferiu não dizer o sobrenome), que desistiu de votar depois do anúncio de veto a Rafsanjani.

Salar reflete o desânimo do segmento urbano e instruído, que forma boa parte do eleitorado e é tido como grande ausente da campanha.

Além do trauma de 2009 e da falta de candidatos de peso, o eleitorado de classe média também sofre com o acirramento das sanções ao programa nuclear, que derrubam o poder de compra e aumentam o desemprego.

A crise econômica, conjugada à repressão, pressiona os iranianos a priorizar a sobrevivência material em vez do envolvimento político.

"Nenhum candidato presta. A vida das pessoas está cada vez mais difícil", afirma a diarista Fariba, 42.

Nos meios conservadores, a falta de inspiração se reflete na fragmentação das intenções de voto entre os três principais candidatos alinhados com o líder supremo.

"Não sei se votarei no [ex-chanceler Ali Akbar] Velayati ou no [negociador nuclear Said] Jalili", diz o editor de um site pró-regime.

Até agora os candidatos vêm optando por comícios em mesquitas e universidades, mais fáceis de encher.

Num dos maiores eventos da campanha, Jalili reuniu 3.000 simpatizantes num ginásio de Teerã.

A TV estatal, com vasta cobertura dos candidatos, parece ser a aposta do regime para gerar empolgação.

Mas, na semana passada, um reformista e um conservador foram cortados do ar enquanto usavam seu espaço gratuito para fazer críticas indiretas ao regime. A TV alegou problemas técnicos.

REVIRAVOLTAS

Analistas, entre eles Hooman Majd, ressaltam que a política iraniana tem histórico de reviravoltas.

Uma aliança dos conservadores em torno de um só candidato ou o apoio declarado de algum cacique oposicionista a um dos presidenciáveis com agenda reformista poderiam mudar o cenário.

Majd, autor do livro "The Ayatollah Begs to Differ" (O aiatolá pede para discordar), diz que a atual apatia não resultará necessariamente em baixa participação nas urnas.

Citando a tendência iraniana de campanhas sendo decididas na última hora, ele afirma que a classe média ainda pode se manifestar em massa em favor de algum candidato.

Majd também afirma que o regime tem grande capacidade de mobilizar eleitores conservadores. Segundo pesquisa, 60% dos iranianos ainda não definiram o candidato.


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