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Análise

Uma estrela que recheava maiôs como ninguém

RUY CASTRO COLUNISTA DA FOLHA

Para Esther Williams, a MGM construiu no estúdio uma maravilha de engenharia --uma piscina que comportava complicados cenários e ângulos de câmera debaixo d'água, equipada com obeliscos lança-chamas e trampolins, trapézios e argolas dos quais ela se atirava a 20 metros de altura no centro de um alvo humano.

Por causa de Esther, Hollywood criou um subgênero: o musical de piscina, que rendeu quase 20 filmes entre 1944 e 1955, alguns dos quais --"Escola de Sereias", 1944; "A Filha de Netuno", 1946; "A Rainha do Mar", 1952; "Salve a Campeã", 1953; "Fácil de Amar", 1953; e "A Favorita de Júpiter", 1955-- renderam muito dinheiro e eram deliciosos de assistir. Os críticos ignoravam Esther, claro, sem se dar conta de que suas evoluções de balé subaquático ou os caleidoscópios humanos que ela presidia à flor da água equivaliam em dificuldade ao que Fred Astaire e Gene Kelly faziam sobre assoalhos encerados.

É verdade que todos aqueles filmes, exceto talvez "A Rainha do Mar" --em que Esther, no papel da pioneira da natação Annette Kellerman, morre tragicamente no fim--, só valiam por ela e pelo criador das inacreditáveis coreografias, Busby Berkeley. Inacreditáveis mesmo, sabendo-se que não contavam com os efeitos especiais de hoje --Esther e os demais tinham fazer de verdade, dentro d'água, o que se via na tela.

DECLÍNIO

Em meados dos anos 1950, a Lei Antitruste obrigou os grandes estúdios a vender suas cadeias de cinemas e, para piorar, milhões de espectadores passaram a ficar em casa assistindo à TV. Com Hollywood sangrando de morte, Esther tornou-se uma extravagância impraticável até para a ex-rica MGM. Ela foi dispensada e, nos poucos filmes que fez fora dali, teve de trocar os maiôs inteiros (que recheava como ninguém) pelos tailleurs com que o público não a identificava. Com pouco mais de 30 anos, Esther Williams deixava de existir.

Mas a Esther pessoa física ainda viveria o dobro disso e se revelaria uma brava mulher. Em sua autobiografia, "The Million Dollar Mermaid", de 1999, ela fala de como foi estuprada aos 13 anos; de seus muitos namoros dentro e fora do cinema (Johnny Weissmuller, o Tarzan, não podia vê-la sem sua tanga ficar alterada); e de como, em 1959, tomou LSD como parte de um tratamento psiquiátrico. Para concluir que, pela vida toda, só se sentia em casa quando estava dentro d'água --como se nunca devesse ter deixado o útero materno.


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