Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Repressão a protesto na Turquia provoca crise com Alemanha
Críticas de Merkel a violência policial irritam governo de Erdogan; países convocam os respectivos embaixadores
Crise pode prejudicar plano turco de entrar na União Europeia; país vê na Alemanha principal obstáculo a candidatura
Uma nova crise diplomática com a Alemanha ameaça os planos da Turquia de dar impulso, na semana que vem, à sua candidatura para integrar a União Europeia.
Os atritos se agravaram ontem, quando o governo alemão convocou o embaixador turco em Berlim para explicar críticas feitas em Ancara à chanceler Angela Merkel.
Na segunda-feira, Merkel condenou a repressão policial na Turquia aos manifestantes que pedem a saída do premiê Recep Tayyip Erdogan. Ela se disse "chocada" com as cenas de violência durante a desocupação do parque Gezi, em Istambul.
"O que acontece na Turquia não corresponde às nossas ideias de liberdade de manifestação e de expressão", disse Merkel, na reunião do G8 na Irlanda do Norte. "Eu estou chocada, como pessoas também estão", acrescentou.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, endossou as críticas de Merkel e disse lamentar que o governo turco não tenha escolhido o caminho do diálogo com os manifestantes.
As declarações irritaram o premiê Erdogan, que tenta retomar as negociações para entrar no bloco europeu depois de três anos de impasse.
Anteontem, o ministro turco para a União Europeia, Egemen Bagis, acusou Merkel de tentar ganhar votos criticando o governo do seu país. A chanceler disputará a reeleição em setembro.
"Se a senhora Merkel deseja usar outro país para fazer sua campanha eleitoral, que não seja a Turquia", afirmou Bagis. "Espero que, daqui até a segunda, a senhora saiba corrigir o grave erro que cometeu, porque, caso contrário, haverá uma reação forte."
Ontem, foi a vez de a Alemanha reagir. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Andreas Peschke, disse que as críticas do ministro turco foram "inaceitáveis".
A decisão de convocar o embaixador turco em Berlim também foi respondida pela Turquia, que chamou o embaixador alemão em Ancara.
Apoiada por outros países da União Europeia, a Turquia tenta entrar no bloco há oito anos e vê a Alemanha como principal resistência à sua candidatura. Merkel já sugeriu que o país fosse aceito com restrições, proposta recusada por Erdogan.
A Croácia também fez seu pedido em 2005 e será aceita oficialmente pela UE na semana que vem.
Os turcos formam a maior comunidade de imigrantes na Alemanha, com mais de 2 milhões de pessoas.