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Museu sobre ditador deposto causa polêmica no Iêmen

DIOGO BERCITO ENVIADO ESPECIAL A SANAA (IÊMEN)

Uma escadaria mal iluminada leva, acima, a um saguão trancado. Ao lado da porta, uma fotografia do ex-ditador iemenita Ali Abdullah Saleh olha para os visitantes através dos óculos escuros. Lá dentro, estão os seus pertences.

A Folha visitou, neste mês, o museu em homenagem ao déspota destronado em 2012 pela Primavera Árabe no Iêmen. A exposição, ainda fechada para visitantes, tem sido alvo de polêmica em tempos de transição política neste que é o país mais pobre do mundo árabe.

O museu está em uma ala da vistosa Mesquita Saleh, na capital, Sanaa. A reportagem é acompanhada por Afaf al-Banat, coordenadora de turismo no local. Ela mostra os itens da coleção, em geral presentes enviados a Saleh por chefes de Estado.

"Não podemos jogar tudo isso fora", diz Banat. "O presidente recebeu muitas coisas, e elas têm de estar em um lugar como este. Serve para mostrar que temos boas relações com outros países."

Estão ali lembranças de países como Estados Unidos e Espanha, incluindo fotografias e dedicatórias. Um prato, em uma das estantes, traz o rosto do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein.

Há, também, grande coleção de estátuas e pinturas de cavalos --animal com que Saleh se identifica.

ESTILHAÇOS

Mas o principal item do museu são as roupas rasgadas e chamuscadas no centro da sala. Era o que o ex-ditador vestia quando a mesquita em que rezava foi atacada por insurgentes. Cerca de 40% de seu corpo foi queimado nessa ocasião.

Na mesma caixa de vidro estão os estilhaços retirados de seu corpo e o relógio que ele usava na hora do ataque.

Para Banat, a exposição é um alerta. "Como muçulmanos, não podemos matar ninguém. Isso não representa o islã", diz. Vestindo abaya (vestido longo), só os olhos estão à vista.

Saleh governou o Iêmen por 33 anos, período durante o qual esse país viu conflitos civis e a união com o território então separado do sul. Ele é apontado como o responsável por unir tribos em um mesmo projeto político.

A nação que ele deixou de legado, porém, hoje enfrenta pobreza severa, fome e carência de água potável. A eletricidade, mesmo na capital, é um serviço inconstante.

"Todos têm um lado bom e outro ruim", diz Banat.

"Saleh é o melhor entre nós, como o rei dos árabes. Ele deu seu melhor, não merecia isso. As pessoas deveriam ao menos dizer-lhe obrigado'."


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