Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Análise

Há pelo menos seis décadas, golpismo está no DNA do Exército

MARCELO NINIO DE PEQUIM

Difícil ficar surpreso com a ação militar contra o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito.

A vocação golpista está no DNA do Exército egípcio desde a deposição do rei Farouk, em 1952, que levou à fundação da república.

Seis décadas depois, sob o peso dos protestos populares, foi um golpe palaciano que derrubou o ditador Hosni Mubarak no histórico 11 de fevereiro de 2011, com o apoio tácito dos EUA.

A euforia da revolução logo se esvaiu e o Egito não teve um só dia de paz desde então. Seguiram-se outros golpes, até a emenda constitucional na véspera da eleição presidencial de 2012, que sequestrou os poderes do islamita Mohammed Mursi antes mesmo de sua vitória.

Os "liberais" podem inventar mil justificativas, mas não há como negar o óbvio: o que houve anteontem no Cairo foi mais um golpe militar.

O governo Mursi foi um desastre, alienou a metade liberal do país, aprofundou a crise econômica e desmoralizou a promessa de uma democracia inclusiva com referências islâmicas que pregou ao tomar posse.

Mas isso não apaga o fato de que Mursi foi eleito legitimamente e está sendo removido com uma ação militar, que não se torna menos autoritária por ter amplo apoio popular. Quem disse que as massas não podem ser autoritárias?

Mergulhado num vácuo político, o país corre o risco de ser sugado para um pesadelo como o da sangrenta guerra civil na Argélia dos anos 1990, quando uma eleição legítima vencida pelo islã político também foi atropelada pelo Exército.

Se a intenção é realizar novas eleições, qual será o papel da Irmandade Muçulmana, que chegou na frente em todas as votações ocorridas desde a queda de Mubarak?

Os militares montaram nas costas dos milhões de manifestantes que saíram às ruas contra o governo para subverter a ordem que as urnas determinaram há um ano.

A impressionante massa humana que protestou nos últimos dias contra Mursi conseguiu o que queria.

A questão é se eles querem o que conseguiram. O erro dos manifestantes é achar que o Exército é um instrumento da vontade popular, quando é justo o oposto.

Como um truque num show de ilusionismo, os militares fingiram que sumiram após a vitória de Mursi, mas nunca saíram de cena.

Apenas passaram para um patamar oculto acima do palco, mantendo o controle dos recursos econômicos do país e, como ficou provado a hegemonia do uso da força.

O novo golpe coloca o Egito à deriva. E o Exército já provou que não é o timoneiro mais confiável para guiar o país rumo à democracia.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página