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'Conspiração' leva 17 turcos à prisão perpétua
Ex-chefe do Estado-Maior é um dos sentenciados por integrar rede Ergenekon, acusada de tramar contra premiê
Julgamento em massa gera protestos de seculares, que acusam governo de usar caso para reprimir oposição
Ilker Basbug, ex-chefe militar da Turquia entre 2008 e 2010, foi condenado ontem à prisão perpétua no julgamento em massa de 275 pessoas acusadas de conspirar contra o governo do premiê Recep Tayyip Erdogan.
Dezesseis outros réus receberam a mesma sentença --entre eles mais membros das Forças Armadas--, enquanto 21 foram absolvidos.
Com o anúncio do veredicto, houve embate entre milhares de manifestantes e as forças de segurança turcas, que lançaram gás lacrimogêneo contra a multidão.
Basbug foi considerado culpado de fazer parte de uma obscura rede nacionalista chamada Ergenekon, cujo objetivo seria tomar o poder na Turquia.
A rede foi descoberta em 2007, quando armas e explosivos foram encontrados na casa de um oficial aposentado no subúrbio de Istambul. A operação foi iniciada após uma denúncia anônima.
Mais tarde, as investigações apontaram a ligação entre as armas e um complexo complô para um golpe de Estado, que nunca chegou a se concretizar.
Segundo a acusação, o grupo pretendia incitar rebeliões civis, assassinatos e terrorismo para provocar caos e minar a estabilidade do governo controlado pelo partido islâmico de Erdogan.
A violência pela qual as autoridades culpam o Ergenekon inclui um ataque armado a um alto tribunal em 2006. Em janeiro de 2012, Basbug foi preso sob suspeita de envolvimento com o grupo.
CAÇA ÀS BRUXAS
O julgamento começou em 2008 e tem sido considerado um embate entre Erdogan, no poder desde 2003, e a oposição. Muitos veem na investigação uma caça às bruxas para silenciar secularistas.
Na capital, Ancara, manifestantes foram às ruas em repúdio ao julgamento, cantando "nós somos soldados de Mustafá Kemal Ataturk", em referência ao dito pai da república moderna turca.
Em junho, a Turquia já havia sido tomada por manifestações em massa contra o governo de Erdogan, visto como demasiado conservador. O premiê reprimiu os protestos, o que motivou críticas internas e também externas.
O anúncio da condenação de Basbug, 70, foi recebido com ironia pela imprensa local, já que, antes de ser preso, ele havia liderado a intensa campanha militar do governo contra a insurgência de separatistas curdos.
Além de Basbug, também foi condenado ontem por "tentativa de derrubar a ordem constitucional pela força" Hursit Tolon, ex-comandante do primeiro Exército.
Três parlamentares em exercício, vindos da oposição, foram sentenciados a entre 12 e 35 anos de prisão.
Segundo a mídia local, ao menos sete jornalistas foram condenados a entre seis meses e 22 anos de detenção.
Há ainda 66 acusados presos, à espera de veredicto.
Em setembro, a Justiça já condenara 322 membros de alto escalão do governo e das Forças Armadas pela tentativa de armar um golpe contra Erdogan em 2003, em um caso não relacionado com o Ergenekon.
