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'Dia de Fúria' deixa 72 mortos no Egito
Irmandade Muçulmana convoca atos contra o governo em todo o país dois dias depois de massacre de opositores
Apoiadores de Mursi foram instados a se dirigir à praça Ramsés, no centro do Cairo, para protestar contra o golpe
O "Dia de Fúria" convocado ontem pela Irmandade Muçulmana em repúdio ao massacre de islamitas na quarta-feira pôs o Egito em estado de incerteza e de violência conforme manifestantes tomavam as ruas.
Ao menos 72 pessoas foram mortas, 50 delas no Cairo. Somando as 638 vítimas confirmadas pelo governo dois dias antes, o número de mortos passa de 700. A Irmandade diz que fará manifestações diárias por uma semana, mas, à noite, pediu aos seguidores que deixem as ruas por causa da tensão.
"Não pararemos até que os soldados voltem aos quartéis", disse o porta-voz Gehad el-Haddad à reportagem.
Os protestos começaram em mesquitas ao redor da capital e convergiram para a praça Ramsés. "As pessoas não estão prontas para lutar. Só estão prontas para morrer. Não temos armas", disse Muhammad Atef, 24, minutos antes dos confrontos.
As tradicionais preces de sexta-feira ecoavam na mesquita da praça Ramsés. "Ó Deus, estão nos matando. Ó Deus, estamos vendo crianças morrerem. Ó Deus, somos fracos, portanto, nos vingue."
Houve uma série de embates no local --não está claro se iniciados por simpatizantes de Mursi ou pelas forças de segurança. Com medo, manifestantes se jogaram de cima de uma ponte.
O governo e diversas embaixadas, inclusive a brasileira, pediam que egípcios e estrangeiros não fossem às ruas. Havia relatos de confrontos por toda a cidade, e o som de metralhadoras era constante à tarde no Cairo.
O grupo Tamarod, responsável por convocar as manifestações que culminaram no golpe contra o presidente islamita Mohammed Mursi, aconselhava a população a não se afastar de suas casas. "Mas, se estiverem próximos de igrejas e edifícios do governo, ajudem a impedir os islamitas", disse Mona Salim.
O Exército cercou prédios do governo e os principais hotéis. O acesso à praça Tahrir, palco da revolução que depôs o ditador Hosni Mubarak, em 2011, estava fechado.
Há receio de que a disputa divida a sociedade de modo irreversível. Para a professora Manil Mahmud, 30, o general Abdel Fatah al-Sisi, chefe das Forças Armadas, traiu a confiança da população. "Ele é um terrorista, rachou o país em dois."
"Não sabemos até onde vamos, mas não aceitaremos o golpe", diz Said l-Shaify, 38.