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Líder militar do Egito anuncia que vai endurecer repressão
Abdel al-Sisi diz que não vai tolerar a 'destruição do país'; ontem, 36 islamitas presos morreram em tentativa de fuga
Manifestantes dão falso aviso de cancelamento das passeatas no Cairo, em tática para despistar as forças de segurança
Abdel Fatah al-Sisi, líder militar do Egito e símbolo do golpe militar de 3 de julho, avisou ontem que não vai "observar em silêncio a destruição do país".
A ameaça de endurecer a repressão aos islamitas apoiadores do presidente deposto Mohammed Mursi vem após a morte de mais de 800 pessoas nos últimos seis dias.
Durante a tarde, 36 islamitas detidos morreram numa tentativa de fuga.
"Nós não vamos ficar calados vendo a destruição do país e do povo por aqueles que querem incendiar esta nação e aterrorizar os cidadãos", disse o militar.
Em sua primeira aparição pública desde os massacres da semana passada, Sisi disse que o país está aberto a quem quiser participar da política, "a não ser os que quebraram a lei".
Ontem, houve diversas passeatas no Cairo. Para ludibriar a repressão, os manifestantes adotaram trajetos tortuosos e anunciaram o cancelamento das marchas, apesar de mantê-las, serpenteando pela cidade.
As passeatas partiram de mesquitas, após as rezas do meio de tarde, rumo à Corte Constitucional. Muhammad Sawan, 46, liderava a manifestação a partir da mesquita Rayyan, no bairro de Maadi.
Ele permanecia ao celular, recebendo ordens --não estava claro de quem. O trajeto era anunciado a cada intersecção, evitando que fosse conhecido de antemão.
"Nossa estratégia é evitar os lugares em que vamos causar confrontos", disse à Folha. "Nossa arma é o protesto pacífico. Nós não temos o mesmo arsenal do Exército."
Sem incidentes, a marcha ocorreu sob a sombra dos massacres da última semana. Na quarta, ao menos 638 foram mortos. Na sexta, 173.
"O governo golpista está matando as pessoas para que pareça que é nossa culpa", afirma Sawan. O premiê egípcio sugeriu que a organização islamita Irmandade Muçulmana volte a ser ilegal.
Os islamitas protestam contra os massacres e pela volta de Mursi à Presidência.
A ditadura de Hosni Mubarak caiu em 2011, após massivas manifestações no contexto da Primavera Árabe.
Mursi, pertencente à Irmandade Muçulmana, venceu em 2012 o primeiro pleito democrático no país.
Manifestantes questionados pela reportagem não decidem se a convicção religiosa ou o imperativo moral é o que os faz seguir nas marchas.
"Minha proteção não vem de ninguém. Vem do fato de que meus amigos estão morrendo, vem de não aceitar o poder do Exército", diz Muhammad Ahmad, 18.
Na passeata seguida pela Folha, moradores alertavam para o risco de agentes de segurança infiltrados e de atiradores em telhados.
"Somos pacíficos. Mas, com o que estão fazendo conosco, nos matando e ferindo...", interrompe Ahmad. "Podemos perder a paciência, mas vamos nos manter pacíficos."