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União Europeia diz que vai 'rever' a sua relação com Cairo
Bloco afirma que 'pedidos por democracia não podem ser lavados em sangue' e deve suspender ajuda ao país
Nos EUA, aumenta a pressão para que Obama interrompa cooperação militar, de R$ 3,6 bi ao ano
A União Europeia afirmou, ontem, que irá rever a relação de seus países-membros com o Egito, após a sequência de massacres no país durante a semana passada.
A medida segue o tom reprovador da comunidade internacional, enquanto legisladores americanos pressionam o governo de Barack Obama para cancelar a ajuda militar ao Egito.
"Os pedidos da população egípcia por democracia e liberdades fundamentais não podem ser descartados, muito menos lavados em sangue", afirmou a União Europeia, ao comunicar que irá "adotar diretrizes" para atingir o objetivo de rever sua relação com Cairo.
Senadores americanos como os republicanos John McCain e Rand Paul pediram que a cooperação militar americana, incluindo equipamento e apoio em empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional), seja cortada.
Os EUA repassam por ano ao Egito ajuda militar no valor de R$ 3,6 bilhões.
"Para nós, assistirmos a isso acontecer é uma violação de tudo em que acreditamos", disse McCain em uma entrevista para a Fox News.
O democrata Richard Blumenthal, por sua vez, afirmou que a administração de Barack Obama tem de condicionar qualquer auxílio a passos específicos em direção à democracia no Egito.
SAIA JUSTA
Os pedidos dos legisladores esbarram na saia justa diplomática em que a transição democrática egípcia colocou os EUA. Segundo a lei americana, o país tem de interromper seus auxílios a partir do momento em que houver golpe à democracia.
Obama tem se esquivado de definir a deposição do presidente eleito Mohammed Mursi como um golpe, e a orientação legal na Casa Branca é que não é necessário assumir nenhuma posição a respeito do assunto.
O governo interino do Egito, liderado por Adly Mansur, anunciou ontem que também irá reconsiderar a ajuda financeira que recebe de outros países. O anúncio foi feito pelo chanceler Nabil Fahmy, que se reuniu com a imprensa durante a manhã.
"Quero determinar o que é útil ou não para nós e se a concessão desses recursos tem boas intenções e credibilidade", afirmou, dando a entender que o dinheiro é usado para a pressão política e a interferência externa.
Fahmy disse, também, ter "outras opções". O anúncio parece motivado pelo auxílio oferecido pelas monarquias do golfo Pérsico, em especial a Arábia Saudita --que, somada aos Emirados Árabes Unidos, entregou quase R$ 30 bilhões desde o golpe.
O grupo de oposição Tamarod, que reuniu milhões nas ruas em junho para protestar contra o governo de Mursi, sugeriu que seja realizado um referendo para banir o auxílio americano e cancelar o acordo de paz com Israel.
Um abaixo-assinado, que o grupo afirma já ter mais de 15 milhões de adesões, circula pela internet.
Os protestos organizados pelo Tamarod precipitaram o golpe de Estado, em 3 de julho, ao catalisar as disposições contrárias ao governo diante da fragilidade econômica do país e de medidas sociais conservadoras que desagradaram parcela da população.