Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Cristãos são retaliados por golpe no Egito

No interior, três igrejas coptas foram atacadas por islamitas; ação seria represália ao apoio da minoria aos militares

Ataques são inéditos na região; cristãos se dizem assustados com a violência dos grupos muçulmanos locais

DIOGO BERCITO ENVIADO ESPECIAL A FAYUM (EGITO)

O padre egípcio Kyrolos Ghindi Yacub, 58, se equilibra entre os destroços chamuscados do que foi, um dia, a igreja de Amir Tadros.

Ele aponta para o telhado desmoronado, para um mural enegrecido e para as vigas retorcidas e resume: "Foi a Irmandade Muçulmana".

A Folha visitou, no interior agrário do Egito, três igrejas coptas atacadas por islamitas no dia 14, durante o surto de violência que acompanhou a repressão militar a manifestantes no Cairo.

Grupos coptas, minoria cristã egípcia que compõe 10% da população, acusam islamitas de terem atacado ao menos 38 igrejas nas duas últimas semanas. Eles sofrem represália por terem apoiado o golpe militar de 3 de julho, que depôs o presidente Mohammed Mursi.

Em Amir Tadros, simpatizantes da Irmandade são acusados de destruir a igreja principal, uma capela e duas pousadas de peregrinos. Quando a reportagem visitou o local, o padre e alguns fiéis se sentavam em cadeiras de plástico, entre destroços, para tomar café e refrigerante.

Yacub mostrava a destruição em meio ao odor de gás lacrimogêneo. Sob os pés, os estilhaços das janelas pareciam uma constelação brilhante.

Segundo o padre, centenas de islamitas pularam os muros da igreja às 7h após um emocionado líder muçulmano pedir vingança pelo massacre do acampamento de Rabia al-Adawiya, no Cairo. A voz foi transmitida pelos alto-falantes de mesquitas.

"Entramos em nossas casas e trancamos as portas. Alguns jovens muçulmanos nos protegeram, formando um escudo humano", diz. "O que mais nos preocupa é que há islamitas dispostos a morrer pela resistência."

O padre Yacub, no entanto, não acredita que o embate seja entre religiões, e sim entre grupos políticos. "Destruíram nossa igreja, mas nunca vão conseguir arruinar nosso amor por nossos irmãos muçulmanos."

ASSUSTADO

A igreja de São Jorge, em Fayum, resistiu à onda de violência. Ali, famílias de muçulmanos acalmaram manifestantes, protegendo as construções. Mas o copta Mabul Megali, 65, diz que se tornaram frequentes as provocações a cristãos nas vilas.

Para o padre Bola al-Naqluni, 51, a questão é de "bandidagem". "São pessoas tentando nos roubar", diz.

Ele afirma que os embates ao redor do país são, a princípio, entre islamitas e o governo, e ambos tentam incluir cristãos como parte da equação. Em vão, diz o padre. "Não nos importamos com quem está no poder."

Os cristãos ouvidos pela Folha em Fayum afirmam que os recentes ataques são inéditos na região, em que estimam haver 500 coptas entre os 25 mil moradores.

"Estou assustado", diz Milad Ramzi, cujo filho Ayman guardava a igreja de Amir Tadros quando houve o ataque de islamitas, no dia 14.

"Bateram nele e queimaram seu tuk-tuk", diz Ramzi, apontando para o riquixá motorizado aos pedaços. "Eles pularam o muro e me atacaram, dizendo que eu tinha de escolher entre fugir ou morrer."

ROSTOS COBERTOS

O motorista que levou a reportagem, ele próprio cristão, está assustado também. Ele aponta os arredores e observa --não há policiais ou soldados na região.

O copta Girgus Bushra, 55, conta que seus filhos foram atacados nos últimos dias com barras de metal, após chamados de líderes islâmicos no bairro ao redor da igreja da Virgem Maria, do séc. 10º. A construção está aos pedaços, após o incêndio deste mês.

"Seus rostos estavam cobertos, mas reconhecemos eles", afirma Bushra. "Anotamos os nomes de todos."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página