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Big Brother Bo

Julgamento de ex-dirigente Bo Xilai vira novelão na China, acompanhado pela internet, com direito a traição e paixões

MARCELO NINIO DE PEQUIM

Após cinco dias que eletrizaram os chineses, chegou ontem ao fim o julgamento do ex-dirigente comunista Bo Xilai, ex-estrela política que caiu em desgraça em 2012.

O julgamento teve mais uma surpresa: a revelação de Bo de que sua mulher teve um caso amoroso com a principal testemunha da acusação.

O triângulo amoroso foi o desfecho à altura de um drama que já tinha ingredientes de sobra para cativar milhões de chineses: corrupção, sexo e homicídio, sob o pano de fundo das disputas entre facções no Partido Comunista.

Até fevereiro de 2012, Bo, 64, era um dos políticos mais populares da China, chefe do partido na megacidade de Chongqing e tido como forte candidato a chegar ao topo da hierarquia comunista.

O declínio começou quando Wang Lijun, ex-chefe de polícia da cidade, se refugiou num consulado dos EUA com provas de que a mulher de Bo, Gu Kailai, assassinara um empresário britânico.

Expulso do partido, Bo ficou detido em condições desconhecidas por quase um ano e meio até ser indiciado, no mês passado, por abuso de poder, corrupção e recebimento de suborno.

Analistas previam um julgamento de cartas marcadas, em que Bo assumiria os crimes em troca de uma pena reduzida. Mas o tom desafiador que adotou desde o início contrariou o script.

Bo desqualificou os acusadores, inclusive sua mulher, que chamou de "louca" por dizer que ele sabia dos subornos. Condenada à morte, Gu deve ter a pena comutada para prisão perpétua.

Ontem Bo alvejou o ex-braço direito, dizendo que Wang fez as denúncias por não superar uma paixão por sua mulher: "Ele ofendeu minha família e meus sentimentos. Essa foi a real razão de fuga".

Embora com depoimentos filtrados pela censura e só com jornalistas da mídia oficial presentes, o julgamento foi o mais próximo de um processo transparente já feito na China, onde as cortes são controladas pelo governo.

Milhões seguiram o julgamento pelo Weibo (versão chinesa do Twitter), no qual a corte de Jinan publicava transcrições diárias.

A inédita transmissão na internet e os inesperados confrontos de Bo com os promotores permitiram uma rara espiada nos excessos e intrigas da elite do país.

A data do veredicto não foi anunciada --a mídia estima para o início de setembro. Num país onde 98% dos réus são condenados, ninguém acredita numa absolvição.

"Bo Xilai não só negou muitas provas como recuou de testemunho que deu por escrito", afirmou a promotoria. "Ele não se enquadra numa sentença reduzida".

Um julgamento não despertava tamanha curiosidade desde 1980, quando a viúva de Mao Tse-tung, Jiang Qing, foi levada ao banco dos réus após liderar o país na desastrosa Revolução Cultural.

Três décadas depois, o país que abriga o maior número de internautas do mundo (591 milhões) pôde acompanhar minuto a minuto o julgamento de Bo Xilai como uma versão política do programa "Big Brother".


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