Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Em resposta a possível ataque, Putin ameaça armar aliados sírios
CLÓVIS ROSSI ENVIADO ESPECIAL A SÃO PETERSBURGOO presidente russo Vladimir Putin ameaçou ontem, veladamente, armar aliados de seu país no futuro, se o Ocidente de fato promover um ataque à Síria.
A mensagem do mandatário, emitida em entrevista ao Canal 1 da TV russa e para a Associated Press, se dá na véspera da abertura da 8ª Cúpula do G20, o grupo das 20 maiores economias do planeta, mais cinco convidados especiais.
Embora o G20 seja um clube eminentemente econômico, a Síria acabou se tornando uma espécie de convidado indesejado, na medida em que há um choque de posições entre o anfitrião, Putin, e o líder da mais importante economia do grupo, Barack Obama.
Putin rejeitou, de novo, as evidências até agora apresentadas pelos Estados Unidos e seus aliados sobre o ataque com armas químicas que a ditadura Bashar al-Assad teria perpetrado contra redutos rebeldes no último dia 21.
Não passam, diz o presidente russo, de "rumores e conversas". Não bastam, prosseguiu, para que uma resposta seja aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, no qual a Rússia tem poder de veto.
Para que o CS possa atuar, seria necessária "uma prova profunda e específica, contendo evidências que provem além de qualquer dúvida quem o fez e que meios foram utilizados".
Putin voltou a lembrar o caso do Iraque, em que os EUA invadiram o país a partir da informação, que se provou falsa, de que o ditador Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa.
"Esqueceram-se disso?", perguntou o presidente retoricamente.
A ameaça velada do presidente apareceu na frase seguinte: se as potências ocidentais de fato atacarem a Síria, "nós [na Rússia] deveríamos pensar como agir no futuro, em particular no que diz respeito ao fornecimento de armas sensíveis para certas região do mundo".
É uma clara alusão ao fato de que a Rússia ainda não completou a entrega à Síria de modernos sistemas de mísseis terra-ar, modelo S-300, que obviamente tornariam ainda mais complicada uma operação aérea do Ocidente contra alvos localizados em território sírio.
A expectativa em São Petersburgo, sede da cúpula, é a de que o tema Síria seja discutido, até sobrepondo-se às questões econômicas que são o foco central do G20, desde o seu nascimento em 1999, primeiro como reunião de ministros de Economia e, a partir de 2008, envolvendo os chefes de governo.
Uma clara indicação de que o tema, que não está na agenda oficial, acabará surgindo é a predisposição de Angela Merkel, a chanceler alemã, de buscar, na cúpula, "uma resposta unida da comunidade internacional" ao ataque com armas químicas.
Merkel não antecipou qual resposta, mas descartou a participação alemã em uma eventual ofensiva.
A presidente brasileira, Dilma Rousseff, não fez até agora nenhuma declaração formal a respeito, mas é conhecida a posição brasileira de que o ataque só se tornaria possível se aprovado pelo Conselho de Segurança, o que o veto russo torna impossível.