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Assad nega 'evidência' de ataque químico
Em entrevista a TV americana, ditador sírio disse não ter envolvimento no episódio que motivou reação dos EUA
Conversa vai ao ar hoje; Assad dá a entender que pode haver retaliação do Irã e Hizbullah se ele for atacado, diz repórter
O ditador sírio Bashar al-Assad negou o ataque químico de 21 de agosto na periferia da capital, Damasco, em entrevista concedida ontem ao jornalista Charlie Rose, das redes de televisão norte-americanas CBS e PBS.
Rose contou ao programa "Face the Nation", da CBS, que Assad negou envolvimento e sequer reconheceu a ocorrência de um bombardeio com gás. "Apesar dos vídeos, ele disse que não há evidências para fazer um julgamento conclusivo."
A entrevista a Rose, que terá trechos exibidos na manhã de hoje pela CBS e será veiculada na íntegra pela PBS à noite, foi realizada no Palácio Presidencial em Damasco. "Ele estava calmo e a cidade parecia relativamente tranquila", contou.
Foi a primeira entrevista de Assad a uma TV dos EUA em quase dois anos. A conversa aconteceu em momento de crescente tensão da guerra civil que assola a Síria desde 2011. Hoje, o Congresso americano começa a votar a intervenção militar na região.
Confrontado sobre a possibilidade de um ataque iminente, o ditador disse não saber o que acontecerá, mas afirmou estar preparado "como se pode estar" e deu a entender que haveria retaliação por parte de seus aliados --o Irã e o Hizbullah (movimento xiita libanês) são apoiadores do regime sírio.
Assad disse, ainda de acordo com Rose, que as experiências anteriores dos EUA no Oriente Médio "não foram boas" e que o povo americano deveria pressionar seus representantes para não autorizar uma ação militar.
Em entrevista ao jornal francês "Le Figaro" na semana passada, o ditador disse haver risco de guerra regional caso a Síria seja atacada. "O Oriente Médio é um barril de pólvora e a situação sairá de controle quando ele explodir", declarou na ocasião.
O presidente Barack Obama também terá entrevistas exibidas por seis canais diferentes na noite de hoje. Amanhã, fará discurso defendendo a intervenção militar.
ARSENAL QUÍMICO
Rose diz ter lido para Assad o primeiro parágrafo da reportagem do jornal "New York Times" de sábado, sobre o arsenal químico da Síria. O texto afirma que, segundo dados de inteligência americana, o país do Oriente Médio acumulou armas químicas com ajuda do Irã e da antiga União Soviética.
A família Assad, que governa o país desde 1971, teria aproveitado grandes lacunas nas leis internacionais e a maior ênfase no combate às armas nucleares.
Segundo Rose, o ditador reiterou o que já tinha dito em entrevista ao jornal francês "Le Figaro", na semana passada: não negou nem confirmou que seu Exército possua armamentos químicos.
"Se tivermos, e não estou dizendo que temos, elas estão sob controle centralizado, ninguém tem acesso a elas", disse Assad.
Ao "Le Figaro", Assad afirmou não haver lógica em utilizar armas químicas em áreas onde o próprio Exército sírio está presente. "Há soldados feridos por esse ataque, como os inspetores da ONU puderam conferir."
O jornal alemão "Bild" publicou ontem reportagem em que afirma que as forças sírias podem ter utilizado gás sem permissão do ditador.
Segundo a agência de inteligência alemã, um navio de reconhecimento próximo à costa síria interceptou mensagens de rádio em que as forças pediam permissão para a utilização --algo que sempre foi negado, diz a reportagem.
O ataque de 21 de agosto matou 1.429 pessoas, das quais 426 crianças, de acordo com os EUA.