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Luiz Carlos Bresser-Pereira

Não valem o sacrifício

Guerras imperiais perderam qualquer legitimidade, conforme reconheceu o Parlamento britânico

A derrota imposta pelo parlamento britânico no dia 29 de agosto ao primeiro ministro David Cameron, que já estava pronto para fazer a guerra à Síria, ficará como um dos grandes momentos da história do Reino Unido, porque pela primeira vez os representantes do povo disseram não às "razões do império".

E, ao fazerem isto, levaram os dois outros grandes países imperiais modernos, os EUA e a França, que também se preparavam para a guerra, a suspender sua ação, pelo menos por algum tempo.

Nos dias anteriores, jornalistas do "Financial Times" e do "Wall Street Journal" analisavam com impiedosa frieza as perspectivas da nova guerra que as três potências preparavam.

Era mais uma guerra contra países em desenvolvimento que se recusam a se submeter a seus interesses. Não discutiam a validade da decisão, já tomada por eles como "óbvia" dado o noticiário que já durava mais de um ano retratando o esforço dos rebeldes sírios e a violência do governo ditatorial "" noticiário que fora coroado pela "notícia" que a Síria teria usado armas químicas.

As razões da guerra para esses senhores e a grande maioria de seus leitores pareciam definitivas.

Em relação às guerras, depois da Segunda Guerra Mundial, o grande progresso que o mundo experimentou foi que agora as potências imperiais precisam de razões morais para intervir e que essas razões devem ser dotadas de credibilidade.

Nesses três países, que se arvoram em defensores dos valores ocidentais e cristãos, essa credibilidade é identificada com seus interesses econômicos nacionais, e, ao mesmo tempo, difundida para as elites ocidentais dos demais países.

Essa credibilidade foi prejudicada pela guerra do Iraque. As armas de destruição em massa cuja mera posse por Saddam Hussein justificariam a guerra não existiam. Agora é pouco provável que tenham sido as forças de Bashar al-Assad que tenham usado armas químicas. Ele estava muito bem avisado pelo presidente americano que, se as usasse, os EUA iniciariam a guerra.

Faz mais sentido supor que foi um dos grupos terroristas islâmicos, entre os muitos que constituem as forças rebeldes, que tenha feito uso de sarin e matado 1.500 pessoas para convencer o Ocidente a intervir.

Existe uma missão da ONU na Síria que está verificando se o governo fez uso de armas químicas. É mais prudente esperar pelos seus resultados.

O mundo deve ao Parlamento britânico o mérito de haver evitado os horrores de mais uma guerra.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial ficou claro para todos que guerras entre grandes países já não podem ter reais vitoriosos. São jogos de soma menor que zero. E, desde a derrota dos EUA no Vietnã e do desastre representado pelas guerras do Iraque e do Afeganistão, também está ficando claro que guerras imperiais não valem o sacrifício.

Não valem porque os povos atacados, indignados porque afinal vivemos na época dos direitos humanos e da democracia, se defendem de forma surpreendente. E porque as guerras imperiais perderam qualquer legitimidade, conforme reconheceu o Parlamento britânico.


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