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Sindicatos egípcios ameaçam revolução
Movimento que ajudou a derrubar ditador e presidente islamita acusa governo de 'blefar' sobre suas demandas
Governo liderado pelos militares elevou salário mínimo, mas a medida acabou interpretada como 'populista'
Um importante líder sindical egípcio adverte que o país pode ter de enfrentar sua terceira revolução desde 2011 se o novo governo não atender às demandas do frustrado movimento trabalhista.
O premiê do país, Hazem el-Beblawi, recentemente, propôs um aumento no salário mínimo dos funcionários públicos, num gesto visto como populista. O governo diz que aumentar salários é uma medida generosa, dada a economia precária do país.
Mas o líder da Federação Egípcia de Sindicatos Independentes (Efitu), organização fundada em 2011 durante o levante que derrubou o ditador Hosni Mubarak, denunciou a decisão como insuficiente e tardia.
Também há revolta porque o aumento não se aplica aos trabalhadores do setor privado, que são cerca de dois terços da força de trabalho egípcia, e temem que o montante inclua bonificações, o que reduziria o salário base.
"Não está planejado ainda, mas eles terão de cuidar dos trabalhadores, ou um dia virá uma terceira revolução em fábricas, governos, em toda a parte", disse Malek Bayoumi, presidente da Efitu.
Outros temem que a proposta salarial seja um blefe com o objetivo de aplacar o movimento até que o governo tenha concluído a repressão aos militantes islâmicos leais ao presidente deposto, Mohammed Mursi.
O movimento trabalhista foi uma das principais forças por trás do levante que derrubou Mubarak em 2011, e suas prolíficas greves ajudaram a desestabilizar Mursi, ao final do seu governo.
"O movimento trabalhista é a maior ameaça a qualquer governo", disse Hossam el-Hamalawy, um proeminente ativista sindical e revolucionário. "Não são os grupos armados que derrubam um regime, mas as greves gerais".
OPOSIÇÃO
Excetuados os sindicatos, a oposição ao governo egípcio continua limitada aos grupos islâmicos como a Irmandade Muçulmana, de Mursi.
Mas os ativistas começam a ressurgir, como indicou, recentemente, a criação de um novo grupo, o Estrada da Frente Revolucionária.
Nomes proeminentes do levante de 2011 estão entre os participantes, incluindo Ahdaf Soueif, Ahmed Maher e Alaa Abdel Fatah.
"As metas da revolução estão sendo esquecidas, e por isso existe a necessidade de uma frente como essa", disse Maher na reunião.
Enquanto isso, um ministro do governo postergou a dissolução da Irmandade Muçulmana, que configuraria o momento mais simbólico da brutal repressão que já resultou na morte de mais de mil integrantes da organização e na detenção de outros milhares deles, desde julho.
Muitos egípcios apoiam que a Irmandade seja completamente isolada, mas alguns ainda esperam que o grupo possa ser trazido de volta ao processo político, temendo que possa se fragmentar em facções violentas caso excluído de todo.
Pesquisadores também advertem que a dissolução da Irmandade Muçulmana teria efeito devastador sobre sua capacidade de manter programas humanitários, que no passado forneciam assistência médica e alimentar a milhões de egípcios.