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Análise
Obama coloca Oriente Médio no centro da diplomacia em seu segundo mandato
PHILIP STEPHENS DO "FINANCIAL TIMES"A rara empolgação desta semana na ONU deixou em seu rastro uma inquietante incerteza.
A abertura diplomática de Hasan Rowhani para com os Estados Unidos representou uma aula de como reordenar a opinião mundial.
A diplomacia competente do presidente iraniano talvez venha a prenunciar uma virada momentosa no amargo relacionamento entre Teerã e o Ocidente.
Mas talvez a retórica apaziguadora seja apenas uma manobra para desarmar os adversários.
A resposta está em buscar contato para ver. É pena que não tenha acontecido um aperto de mão entre os dois líderes, mas a resposta de Barack Obama --entusiasmo temperado de realismo-- fez soar a nota correta.
A virada para a Ásia que caracterizou a diplomacia de seu primeiro mandato se tornou uma revirada para o Oriente Médio no segundo.
Dados os múltiplos incêndios que grassam naquela parte do mundo, não é como se ele tivesse muita escolha.
O presidente americano foi inteligente ao acoplar a reformulação das relações com o Irã ao mais recente esforço para pôr fim ao conflito entre árabes e israelenses. Não há como separar os grandes desafios na região.
A desavença entre Teerã e o Ocidente pode ser resumida a uma disputa sobre a posição dos ponteiros de um relógio.
Desconsiderados os detalhes técnicos, a discussão sobre o enriquecimento de urânio e as cláusulas exatas do Tratado de Não Proliferação Nuclear envolve tanto intenções como centrífugas.
Na negociação, os Estados Unidos terão de estar dispostos a aceitar riscos.
A alternativa seria um impasse, com o Irã avançando na estrada para o desenvolvimento de uma arma nuclear.
Ataques aéreos podem causar atrasos, mas não existe maneira segura de impedir que o Irã consiga uma bomba, se ele assim decidir.
A melhor esperança de prevenir a proliferação é convencer Teerã de que seus interesses estratégicos são outros.
A questão que os governos ocidentais têm de responder é como impedir que um programa civil sirva de plataforma para que o Irã produza uma arma.
A resposta esses governos sabem, mas preferem não admitir: se a dissuasão e a persuasão falharem, não haverá muito que fazer.
O que eles poderiam obter por meio de negociações, no entanto, é uma ampliação do intervalo entre a decisão de construir uma bomba e a aquisição concreta da arma.
Daí a importância dos ponteiros do relógio.
Nas palavras de um veterano negociador nuclear norte-americano, todo país dotado de um setor nuclear tem o que os especialistas chamam de "capacidade de conversão".
O que importa são as intenções e, em caso de dúvida, o tempo que separa o enriquecimento para fins pacíficos da produção de ogivas.
No caso do Irã, os Estados Unidos e seus aliados desejam que esse prazo seja medido em anos, e não em semanas ou meses.