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Israel recorre a minoria contra Hizbullah

Batalhão de drusos, grupo étnico-religioso que se espalha por vários países, foi o 1º a entrar no Líbano na guerra de 2006

Lealdade ao Estado é tida como característica do grupo, cuja taxa de alistamento é superior à dos homens judeus

DIOGO BERCITO ENVIADO ESPECIAL A NABI SHUAIB

Kasem Bader cofia o bigode. Vestido com uma espécie de calça de cavalo baixo e um chapéu cônico, ele recebe a reportagem da Folha no santuário montanhoso de Nabi Shuaib e insiste na importância da penugem --"o bigode nos faz homens", diz.

Bader é um líder entre os misteriosos drusos, um grupo étnico-religioso que se esconde em vilarejos na região que hoje toma o norte de Israel e o sul de Líbano e Síria.

Nabi Shuaib é o local mais sagrado para esta fé, surgida no Egito, no século 11, a partir do islamismo. "É como Jerusalém para os judeus e Meca para os muçulmanos", diz Bader. Drusos creem historicamente que Jetro, o sogro de Moisés, está enterrado ali.

Enquanto serve uma receita drusa de café, curto e inesperadamente azedo, Bader volta a cofiar o bigode. É o que lhe faz homem, repete.

Assim como a lealdade ao Estado, uma das características desse povo. Os drusos são lembrados em Israel como grupo étnico de excepcional participação no Exército. Na população masculina drusa, a taxa de alistamento é de 82%. Entre homens judeus, é de 74,6%, diz o governo.

"A honra do druso vem da terra e da religião", afirma Bader. "Somos leais ao governo. Se for preciso, nós lutamos contra irmãos drusos para defender o Estado", diz.

O combate também faz parte da cultura drusa, para além da retórica. O batalhão israelense de Cherev, formado por drusos, foi o primeiro a entrar no Líbano na guerra de 2006 --e o último a sair. Treinados para lutar no terreno libanês, seus soldados são a ponta de lança do Exército contra os militantes xiitas do Hizbullah.

A Folha acompanhou uma marcha do batalhão de Cherev entre vilarejos drusos. Eles caminharam das 5h às 15h, como parte do treinamento. Camponeses os receberam com pétalas de rosa e quibe frito temperado com ervas.

"Somos patriotas", diz o soldado Wisam Zayin. "Crescemos nesta terra e conhecemos essas árvores mais do que conhecemos o deserto. Quando estamos na fronteira e olhamos para trás, vemos nossas próprias casas."

Zayin nota que a relação familiar entre drusos é estreita. "Os judeus terminam o serviço militar e vão viajar ao redor do mundo. Depois, moram sozinhos. Nós ficamos com nossos pais a vida toda."

Segundo o capitão Walid Tarif, "os drusos vivem em regiões onde foram historicamente perseguidos". "Somos eficientes em duas coisas, agricultura e defesa. Respeitamos quem nos respeita."

SEGREDO

Há hoje mais de 125 mil drusos em Israel, 700 mil na Síria e 250 mil no Líbano. Esse povo foi separado, na era moderna, pelas fronteiras e pelas guerras. "Hoje, Nabi Shuaib está aberto apenas aos drusos israelenses", lamenta Bader, o do bigode. "As famílias só vão se reencontrar quando houver paz."

A religião drusa não é missionária e não permite conversões. Para ser druso, é preciso nascer de pai e mãe vindos desse grupo. Suas escrituras não são divulgadas.

Bader descreve as tradições visíveis dos drusos, como roupas confortáveis "para andar a cavalo" e as cores que simbolizam a religião. Mas se recusa, sorrindo, a explicar em que os drusos acreditam ou seus rituais. "É segredo", diz. Por quê? "As razões para o segredo são secretas."


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