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Clóvis Rossi

Quando o amigo é espião

Passou da hora de os EUA controlarem sua paranoia antiterrorismo e deixarem de constranger os aliados

Agora é a vez de o governo francês fazer o que Dilma Rousseff fez no mês passado: chamar o embaixador norte-americano para dar explicações sobre o megaesquema de espionagem da NSA (sigla para a Agência de Segurança Nacional).

Vai dizer que a prática é "totalmente inaceitável", conforme antecipou o chanceler francês Laurent Fabius. É o mesmo blá-blá-blá empregado pelas vítimas do esquema anteriormente apontadas. Não que o blá-blá-blá seja dispensável ou incorreto. É necessário, mas não resolve o problema.

O que resolveria seria a segunda parte da cobrança antecipada por Fabius: "Temos que ter certeza, muito rapidamente, de que isso não acontecerá de novo".

É isso. Será que nem aliados tão importantes dos EUA, como Brasil, Alemanha, França e México, não têm força para exigir que Washington dê fim ao monitoramento?

Afinal, "isso não se faz entre parceiros, não se faz entre amigos", como declarou o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, ao apoiar a queixa francesa.

Dilma já havia dito, quando foi ela quem se viu no centro das revelações sobre espionagem, em setembro, que o esquema não visa só o terrorismo (o que, aliás, seria compreensível), mas está voltado para negócios e política interna.

As novas revelações mostram, como diz o "Monde", que o "esquema de intrusão em vasta escala" afetou também "os segredos das maiores firmas nacionais".

Nem era preciso explicitar: bastava saber que, em menos de um mês (entre 10 de dezembro de 2012 e 8 de janeiro de 2013), foram grampeados 70,3 milhões de telefonemas trocados por franceses. Ora, se terroristas fossem capazes de trocar esse tsunami de chamadas telefônicas em tão pouco tempo, já teriam tomado o poder não apenas em Estados falidos mas em Washington, Paris, Londres, Brasília e por aí vai.

Até dá para entender a paranoia norte-americana com o terrorismo. Entende-a quem viu a destruição provocada pelos atentados de Nova York em 2001. Nenhum país, por fraco que fosse, se conformaria em ter sua cidade mais simbólica tão cruel e duramente afetada.

Mas, entre vigiar potenciais terroristas e o esquema de espionagem em larga escala, há um abismo.

É o que estão dizendo não adversários dos EUA, mas seus aliados mais firmes na Europa e dois parceiros estratégicos nas Américas, como Brasil e México.

Os Estados Unidos acabaram criando um sistema clandestino, que chamam de pesos e contrapesos, uma das maravilhas da democracia norte-americana quando usada nas relações Executivo/Legisltivo/Judiciário.

Comenta Andrew Rosenthal, editor de Opinião do "New York Times": "Agora, a NSA, a CIA e a Casa Branca usam o termo para se referir a uma organização secreta que revê as ações que ela [a NSA] tem tomado e decide, em segredo, se elas são legais e constitucionais".

Está mais do que na hora de acabar com esse esquema, sob pena de se criarem "sombras" (como o então chanceler Antonio Patriota disse à época) sobre as relações dos EUA com o mundo todo.


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