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Entrevista - Oliver Stone

Todo país mente, e isso vale para morte de John Kennedy

Cineasta defende seu filme sobre assassinato do presidente e diz que foi marco na sua vida

GUILLAUME SERINA DA FRANCE USA MEDIA

Mais de 20 anos após lançar "JFK", o cineasta Oliver Stone, 67, afirma que o filme de 1991 foi "um marco" em sua vida. Depois dele, avalia Stone, os críticos sempre o colocariam "como um sujeito que busca ser notícia, jamais como cineasta apenas".

Em "JFK", Kevin Costner faz o papel do promotor Jim Garrison, que investigou a suposta conspiração para matar o presidente dos EUA, cujo assassinato completa 50 anos na sexta-feira.

Nesta entrevista, Stone defende o filme e conta como sua imagem de John Kennedy mudou ao longo dos anos.

Pergunta - Que imagem você fazia do presidente Kennedy?
Oliver Stone - Minha família era conservadora, republicana. Meu pai era anti-Kennedy, anti-Castro. Minha imagem do presidente quando criança era a de um homem muito bonito e elegante.
Quando ele foi morto, foi um dia triste, e aceitei a história oficial. Não sabia muito a respeito. Mas depois veio a monstruosidade de Lyndon Johnson no Vietnã, entre outras coisas. O país se amargurou muito a partir de 1963.
Minha imagem de Kennedy mudou ao longo dos anos por causa de Watergate e do crescente conhecimento sobre as coisas que o governo dos EUA fazia no exterior.
Nos anos 80, veio meu conhecimento sobre o que o governo Reagan fazia na América do Sul e Central. Em 1989, eu já era bastante progressista e havia mudado meu pensamento sobre tudo. Inclusive Castro e Kennedy.

Como começou o projeto?
Em 1989/1990, li o segundo livro do [promotor] Jim Garrison e pensei que daria um bom thriller. Inspirei-me em "Z", de Costa-Gavras, sobre o assassinato de um político na Grécia --o crime é investigado e resolvido por um promotor, mas as coisas mesmo assim se desmantelam. Ele está contrariando o Estado.
A mim parecia existir ali uma semelhança com Garrison e sua batalha contra o Estado nos EUA. E também pelo fato de ele não ser autorizado a levar o processo adiante.

Você achou que Garrison era um grande personagem em torno do qual criar um filme?
Sim, eu e Kevin Costner conversamos com ele e fiquei muito impressionado. Ele tinha uma grande determinação de descobrir a verdade. Alguns dizem que só queria publicidade, mas com certeza há maneiras menos dolorosas de fazê-lo [risadas].

Passados 50 anos do crime e 22 do filme, como se sente sobre o fato?
Não é surpresa para mim. Em todo país há mentiras oficiais. Na França, há o problema do colaboracionismo na guerra. Aqui também temos questões com as quais não lidamos, como a bomba atômica. Só temos propaganda e educação desinformada.
O mesmo vale para Kennedy. Aliás, a operação clandestina estava clara de imediato. Eles tinham a biografia de Oswald à mão imediatamente. Há muitos exemplos nas coisas que aconteceram naquele dia, incluindo o roubo do corpo e a autópsia absurdamente incompetente.
Mas a mídia era mais subserviente que hoje. Hoje há mais veículos. Houve contestação, mas oficialmente ninguém fez nada a respeito. Quando saiu o relatório da Comissão Warren dizendo que Lee Oswald agira sozinho, todos acreditaram. Eu acreditei.

Você se surpreendeu com a controvérsia sobre o filme?
Eu era mais jovem, ingênuo, foi minha primeira grande controvérsia. Foi um marco em minha vida e em minha carreira como diretor. Percebi que jamais seria julgado da mesma maneira.
Os críticos jamais me colocariam na mesma categoria que os demais, mas sempre como um sujeito que busca ser notícia, com uma visão contenciosa da história, uma opinião diferente. Jamais me veriam como cineasta apenas. E isso continua verdade.

Com o tempo e melhor acesso a informações, você acredita que o país buscará a verdade?
Há muito a pesquisar quanto aos tiros, às digitais, às balas, à arma, ao retrospecto de Oswald, ao seu paradeiro. Nada disso foi examinado de verdade. Defendo meu filme: tenho muito orgulho dele. Sustentou-se bem por todos esses anos porque era bom.
A verdade é que a ideia de Garrison como alguém que busca lucro ou um louco solitário não se sustenta. Hoje há gente como Edward Snowden, Julian Assange, Bradley Manning, que criticam o Estado. A maioria dos cidadãos os reprova, mas muitos entendem que Estados mentem. Vimos isso com Bush no Iraque e Bush pai no Kuwait. Todos têm medo nos EUA.

Como Kennedy é percebido hoje nos EUA, em sua opinião?
A maioria das pessoas hoje em dia é jovem demais para recordar como ele era. Mas foi um homem glamouroso, e é isso que o torna popular.


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