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Depoimento

'Andar por NY foi como estar no freezer com ventilador ligado'

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES DE NOVA YORK

Quando a previsão do tempo informa que no dia seguinte a temperatura máxima será de -10ºC e a mínima de -15ºC --e as ruas da cidade ainda estão cercadas por uma pasta de gelo e neve--, o melhor a fazer é não fazer nada.

Ficar em casa é a maneira mais eficaz de escapar do inimigo público número 1 da temporada, o temível vórtice polar --fenômeno que, desconfio, deve ter saído da mente gélida do Mr. Freeze.

Mas, como Batman não se animou a deixar as cobertas para esquentar a história, só resta aos nova-iorquinos conviver com este inverno polar.

Ontem, depois de uma noite em que o vento zumbia nas janelas, acordei às 7h30 e gelei, no quentinho do meu apartamento, ao ver a temperatura externa na página do Weather Channel: -15ºC, com sensação térmica de -26ºC. Meu Deus.

Autoridades municipais emitiam alertas sobre riscos de hipotermia, jornais davam dicas para quem fosse sair às ruas, e a TV cobria a impiedosa onda de frio que paralisa serviços.

É verdade que, grau a mais, grau a menos, os nova-iorquinos estão acostumados a invernos rigorosos. Alguns até parecem querer confirmar aquela conversa de que "frio é psicológico" --e passam pelas calçadas, de pernas de fora, em dias gélidos, praticando suas corridinhas matinais. Ontem, porém, não vi nenhum herói se arriscando.

Filho dos trópicos, saí de casa pela manhã com meu enxoval completo: ceroulas (!) e duas camisetas de manga comprida, feitas de fibras térmicas, por baixo da roupa; meias de esquiador; botas forradas de pelos; luvas grossas, gorro e cachecol. Para completar, aquele casaco gorducho de gomos que te deixa como o boneco da Michelin.

Nunca tinha experimentado temperaturas tão baixas. Às 8h30, estava na rua para levar minha sobrinha --que trocou o inferno carioca por férias glaciais nos EUA-- ao curso de inglês. Fomos de táxi, mas voltei a pé --um percurso de 2,4 quilômetros.

Todo encasacado, o frio, ainda assim, teimava em entrar. O maior drama são os pés, que mesmo com meias especiais e botas, petrificam. E o rosto, castigado pelos ventos. Ontem as rajadas passavam de 30 km/h, o que me fazia sentir como se estivesse trancado num freezer com o ventilador ligado.

Felizmente abriu um dia de céu azul e, apesar dos restos de neve, a cidade estava seca. O trajeto de volta, que eu faria em 27 minutos, segundo o GPS de meu celular, alongou-se. É que me vi compelido a fazer duas providenciais paradinhas. Nada como entrar num café, pedir um chocolate quente e recuperar o corpo antes de voltar ao clima polar do lado de fora.


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