Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Violência dispara na terra natal de Messi

Antes conhecida por causa da estrela do futebol, Rosario passa a ter fama na Argentina pelo índice de homicídios

Disputa entre facções do narcotráfico é o fator principal do aumento de assassinatos; ONGs cobram políticas sociais

LÍGIA MESQUITA ENVIADA ESPECIAL A ROSARIO

Distante 306 km de Buenos Aires, Rosario ganhou fama mundial nos últimos anos por ser a terra do craque Lionel Messi. Mas, na Argentina, a atual notoriedade da cidade de 1,2 milhão de habitantes, na província de Santa Fé, se deve ao aumento da violência e do tráfico de drogas.

Até o começo de novembro, 253 homicídios haviam sido registrados em Rosario no ano passado, uma média de 21 assassinatos por 100 mil habitantes. Em 2012, foram 182 assassinatos.

Como comparação, no período entre dezembro de 2012 e novembro de 2013, São Paulo teve redução na taxa de homicídios, de 11,5 para 10,8 por 100 mil habitantes. Internacionalmente, considera-se que índices acima de 10 significam que os homicídios são epidêmicos.

A estatística de Rosario não inclui os quatro assassinatos ligados ao tráfico nos últimos dias de 2013, no que a mídia local chamou de "semana sangrenta" --um deles foi o de Luis Medina, 42, acusado de chefiar a venda de drogas na zona norte da cidade.

A taxa de assassinatos em Rosario vem crescendo há três anos e está ligada ao avanço do narcotráfico e à exclusão social, segundo Enrique Font, professor de criminologia da Universidade Nacional de Rosario.

Um estudo da universidade mostra que, desde 2004, 1.000 pessoas morreram na cidade por causa do tráfico.

Dos assassinatos cometidos em Rosario, poucos são em decorrência de roubos. A maioria se encaixa na categoria de ajuste de contas e vingança envolvendo integrantes de quadrilhas.

"A Secretaria de Segurança de Santa Fé nega esse fenômeno, coloca todos os outros crimes como violência pessoal. Vamos ver até quando continuarão ocultando", diz Font. A Folha pediu informações à secretaria e solicitou entrevista com o titular da pasta, sem ser atendida.

Outro fator que contribui para o aumento de homicídios é a polícia. O envolvimento de policiais com traficantes fez com que surgisse o termo "narcopolícia".

Em março, o ex-chefe da polícia de Santa Fé Hugo Tognoli foi preso sob acusação de participar de esquema de venda de drogas em Rosario.

Neste ano, outros três policiais também foram presos por terem ajudado a encobrir um triplo homicídio que chocou a cidade, em 2012.

Três jovens do movimento social 26 de Junho --Frente Popular Darío Santillán, do bairro de periferia Vila Moreno, foram assassinados por engano em um acerto de contas entre quadrilhas no dia 1º de janeiro daquele ano. Estavam voltando da festa de Ano-Novo quando morreram.

O problema com a polícia é tão claro que, em outubro, depois de sofrer um atentado com 14 tiros disparados em sua casa em Rosario, o governador Antonio Bonfatti pediu proteção da Gendarmería, a força policial federal, e não da polícia estadual.

JOVENS SOLDADOS

Entre os mortos neste ano, muitos são jovens que trabalhavam como "soldaditos" (soldadinhos) do tráfico, vigiando os bunkers de produção e distribuição de drogas.

Nos cinco primeiro meses de 2013, 66 pessoas entre 16 e 25 anos foram assassinadas.

"É uma questão de construção de identidade. Os garotos da periferia entram para o crime e veem que conseguem ter o mesmo tênis que o garoto que mora no centro, que podem ter uma arma e serem respeitados", diz Pitu Salinas, um dos organizadores do movimento 26 de Junho. "O problema é que há uma reserva enorme e, quando um moleque morre, logo entra outro."

A organização promove aulas e oficinas de artesanato e cultura para jovens. "A solução não está em continuar estigmatizando os jovens. Tem que se oferecer cultura, educação, esporte."

Para Juan Monteverde, do Movimento Giros, também da periferia, os jovens que entram para o crime não conseguem projetar o futuro porque não há políticas sociais. "Se você não enxerga o futuro, o melhor é aproveitar o presente. Por isso os garotos não se importam em matar ou morrer", afirma.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página