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Fotógrafo registra abandono da embaixada do Irã nos EUA

Prédio está fechado desde 1979, quando países romperam laços

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Um salão vazio com portas quebradas encostadas nas paredes e cadeiras amontoadas num canto destoa do cenário de festas e jantares que tiveram até Elizabeth Taylor, Andy Warhol e Liza Minelli na lista de convidados.

Essa é uma visão inédita do que restou da Embaixada do Irã em Washington, um mundo que ficou lacrado desde 1979 e agora foi revisitado pelas lentes de um fotógrafo, o iraniano-americano Eric Parnes, primeiro artista a fazer um registro visual dali.

Sua exposição, em cartaz numa galeria de Dubai, mostra o cenário de desolação que tomou conta da construção em estilo persa --do brasão empoeirado dos portões de entrada ao estado de deterioração dos móveis.

Mas a estrutura do prédio continua quase intocada, como memória da época antes da crise detonada pela invasão da embaixada americana em Teerã, quando estudantes mantiveram 52 funcionários do país reféns por mais de um ano, de novembro de 1979 a janeiro de 1981.

Desde então, o prédio iraniano, que ainda pertence ao governo do país, mas é mantido pelo Departamento de Estado dos EUA, permanece lacrado, como se congelado naquele instante.

Passaportes esquecidos por iranianos que foram renovar seus documentos se acumulam em cima de uma mesa, enquanto fileiras de gabinetes metálicos guardam os papéis daquela época.

Há ainda arquivos que documentam o pouco conhecido envolvimento do Irã na Segunda Guerra Mundial.

No meio de um salão de baile há um lustre solitário. Janelas revelam um pátio interno vazio, uma fonte seca ao centro, diante de uma cúpula de ladrilhos azuis.

Em entrevista a um jornal britânico, Parnes compara a embaixada a um túmulo.

"Eu me lembro de passar ali quando criança. Esse prédio ficou gravado na minha memória", conta o artista. "Agora é uma relíquia do passado, um túmulo selado e sombrio."

PSIQUE

Nesse ponto, sua obra é também um comentário sobre a percepção do Irã no imaginário dos americanos depois da crise iniciada em 1979.

Ele lembra que, antes do abalo nas relações diplomáticas, o governo americano era muito próximo do regime do xá Reza Pahlevi, deposto no começo de 1979 pelo movimento que acabou instaurando o regime islâmico até hoje no comando do país, o que explica a presença de celebridades nas festas ali.

Nas palavras de Parnes, as mudanças velozes na relação entre os dois países até hoje causam "abalos na psique americana e entre iranianos".

Sua obra, para além do caso específico do Irã, também tenta questionar estereótipos do Oriente Médio que se firmaram no pensamento ocidental, questionando visões romantizadas da região para dar lastro a uma corrente de pensamento que ele chama de "neo-orientalismo".


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