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Análise

Crise em Kiev é reflexo direto da estratégia de Putin para a região

Presidente russo busca reformar a antiga esfera de poder dos tempos imperiais e soviéticos

IGOR GIELOW DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O agravamento do conflito na Ucrânia não poderia vir em pior hora para o seu principal ator no palco global, o presidente russo, Vladimir Putin.

Após um 2013 de vitórias diplomáticas sobre o Ocidente, como na sobrevida dada ao aliado sírio Bashar al-Assad no poder, Putin celebra seu momento de glória com os Jogos de Inverno em Sochi --ainda que o time russo de hóquei tenha sido humilhado, mas isso é nota de rodapé.

Se as rebeliões islâmicas no Cáucaso e os rugidos da pequena Geórgia foram administrados, a Ucrânia é algo bem diferente.

Lá a questão nacionalista emula a dos países bálticos, onde a grande minoria russa se estranha com os ex-dominados. Só que numa área com 44,6 milhões de habitantes e com gasodutos vitais para a exportação russa à Europa.

A maior concentração de russos étnicos fora dos domínios do Kremlin está lá, quase 20% da população. Além disso, a base da Frota do Mar Negro russa, que dá saída militar para o Mediterrâneo e o Atlântico, segue onde esteve desde o século 18: no porto ucraniano de Sevastopol.

A batalha nas ruas de Kiev é reflexo direto do novo poder de Moscou desde a ascensão de Putin em 2000, que busca reformar a antiga esfera de poder dos tempos imperiais e soviéticos.

Entre 2004 e 2005, a chamada Revolução Laranja foi uma expressão de revolta contra o poder do vizinho, mas mesmo seus integrantes caíram em descrédito. De 2006 para cá, diferenças foram resolvidas na base de fechar a torneira do gás russo.

Uma parcela que parece majoritária da população quer a aproximação com a Europa, o que é o estopim da crise atual. É algo não só econômico, mas cultural --o hino local se chama "A Ucrânia ainda não pereceu", com o sóbrio "ainda" em destaque.

Além da posição do governo Yanukovich, supõe-se um apoio expressivo na sociedade ao alinhamento com Moscou, embora uma guerra civil nas linhas balcânicas dos anos 90 não pareça factível no momento. O problema é que a violência está escalando, e o congelamento de bens de partidários do governo já fez ser sacada a carta do "financiamento ocidental" da crise pelo chanceler russo.

A Ucrânia não é a Geórgia, e a evolução do conflito poderá mostrar os limites do projeto de poder de Putin. Ou a falta deles.


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