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Multidão tira 'selfies' em mansão do presidente recém-deposto da Ucrânia
Propriedade nos arredores de Kiev tem bosques, campos de golfe e estátuas gregas e atraiu peregrinação popular no fim de semana
As mansões e os bosques de Mezhyhirya, propriedade privada de Viktor Yanukovich, presidente deposto da Ucrânia, tornaram-se ontem cenário para os "selfies" da multidão que tomou a estrada para visitar esse palácio.
Jovens se fotografavam pelo terreno, abraçando estátuas gregas e posando entre árvores e campos de golfe.
Os visitantes foram atraídos pelos relatos do luxo em que o ex-presidente vivia, a 20 quilômetros de Kiev. São 140 hectares, nas margens do rio Dnieper. O Estado de Mônaco tem 200 hectares.
"Eu estava com pena de Yanukovich quando ele foi deposto pelo Parlamento", afirma à Folha Iliana Gizchenko, 51, após fotografar-se com um lobo de metal no jardim do ex-presidente. "Agora, não sinto mais pena."
Gizchenko veio até a mansão com o filho, Alexei, 27. Eles viajaram por dez horas de trem desde Odessa. "No Brasil, seu presidente tem tudo isso?", ela pergunta à reportagem. "Não sabíamos que isso existia", diz o filho, no bosque às margens do rio.
Apesar das denúncias nos últimos anos, havia pouco conhecimento sobre as reais dimensões de Mezhyhirya.
Nas horas da derrocada política de Yanukovich, a população assistiu atônita às imagens divulgadas de dentro do palácio. Fotografias mostravam de sofás com pele de crocodilo a uma réplica de galeão, passando por ruínas em estilo grego e livros raros.
A propriedade de Yanukovich inclui, ainda, um zoológico particular e diversos canais onde flutuam, despreocupadas, famílias de patos.
Com o desaparecimento das forças de segurança, a propriedade tem sido protegida por milícias paramilitares, que impedem a entrada em determinadas áreas e a pilhagem do tesouro de Yanukovich. Voto parlamentar decidiu, ontem, que a mansão é propriedade pública.
Documentos achados ali, que aparentemente sobreviveram a tentativas de destruição na fuga de Yanukovich, estão sendo investigados como pistas de sua corrupção.
Mesmo quem começou a viagem de manhã teve dificuldades em chegar à propriedade de Yanukovich, em meio à comoção da peregrinação revolucionária. As rodovias estavam cheias de carros e boa parte dos viajantes prosseguia a pé, sob a neve.
A caminhada era, porém, a primeira etapa de um dia de exercício. Sem os carros esportivos do presidente --fechados em um galpão, vetados à imprensa-- e sem os veículos de golfe, o trajeto entre as construções tomava meia hora, às vezes colina acima.
Visitantes se perguntavam o que vai ser, nos próximos meses, das mansões. "Poderíamos construir um museu da corrupção, aqui", diz Eugene Poliakov, 28. "Assim, veriam tudo o que existe aqui."