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Clóvis Rossi

O "capo" cai, a droga não

Prisão de um grande líder do narcotráfico não muda realidade do negócio; prova necessidade de alternativa

As autoridades mexicanas prenderam, no sábado, Joaquín "El Chapo" Guzmán, lendário chefe de um dos principais cartéis de drogas, o de Sinaloa, Estado em que nasceu e no qual foi capturado.

Se se considerar que "El Chapo" ("baixinho", na gíria local) tinha uma fortuna estimada pela revista "Forbes" em US$ 1 bilhão (R$ 2,34 bilhões), o que o colocava entre os dez homens mais ricos do Mëxico e no 67º posto no mundo, fica fácil calcular o impacto da prisão.

Ainda mais que ele era procurado fazia 13 anos, desde que fugiu de um penitenciária dentro de um carrinho de lavanderia, segundo a versão policial, ou pela porta da frente, disfarçado de policial, de acordo com outras versões.

O jornalista mexicano Raymundo Riva Palacio, especialista em crime organizado, chegou a comparar a importância de Guzmán para o narcotráfico com a de Bin Laden para o terrorismo, em artigo publicado por "El País". Talvez não seja exagero: o "capo" dirigia operações que se espalhavam por quatro continentes e geravam lucros de mais de US$ 3 bilhões/ano (R$ 7 bilhões).

Estabelecida a importância do caso, a pergunta seguinte inevitável é simples: que efeito terá a prisão no narcotráfico?

Responde Yuri Herrera, escritor mexicano, também para "El País": "A detenção rotineira desses criminosos de alta patente não tem significado redução da violência nem maior eficácia das instituições encarregadas de distribuir justiça e, obviamente, tampouco tem afetado o negócio do tráfico, vigoroso como nunca e que estendeu suas atividades a outras áreas, como sequestro, extorsão e tráfico de pessoas".

Reforça, para "Foreign Policy", Douglas Farah, que cobriu a guerra do tráfico durante duas décadas e hoje é consultor especializado em crime organizado:

"No lado positivo, a cadeia de comando e controle do cartel é desorganizada e, pelo menos temporariamente, os serviços de entrega [da droga] podem se desorganizar. Mas isso raramente se traduz em um declínio a longo prazo da disponibilidade de cocaína nas ruas dos Estados Unidos e da Europa" (pode acrescentar, sem susto, o Brasil).

Na verdade, a prisão do líder do cartel de Sinaloa pode provocar aumento da violência se os demais grupos do crime organizado se lançarem ao seu espólio, no pressuposto de que Sinaloa ficará enfraquecido sem seu líder. É como escreve, para o "Guardian", Ed Vulliamy, autor de um livro sobre a guerra das drogas na fronteira México/EUA:

"O poder de Guzmán não desaparecerá com sua prisão. O que nunca é certo no México é onde a próxima carnificina ocorrerá, mas que ela ocorrerá é certo, porque a guerra do México não é apenas um problema do México, é do mundo, enquanto a Europa e a América cultivarem sua insaciável necessidade por drogas".

Se é assim mesmo depois de um evento tão formidável como a prisão de um grande "capo", fica evidente que a guerra às drogas não pode continuar apenas com a sua faceta repressiva, já que mesmo quando ela funciona, como agora, não resolve o problema.


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