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Clóvis Rossi

Na Venezuela, Brasil só torce

Governo Dilma reza para que a Unasul reproduza em Caracas modelo de diálogo usado em 2008 na Bolívia

Podem cobrar à vontade, mas o governo brasileiro não tem a mais remota intenção de intervir na crise venezuelana, a não ser, como é óbvio, que as próprias autoridades venezuelanas peçam algo.

Não vão pedir, do que dá testemunho o fato de que rejeitaram, com todo o carinho pelo personagem, a oferta pública de mediação do presidente do Uruguai, José Mujica.

O governo brasileiro continuará a atuar só no bojo do Mercosul e da Unasul, o que, certo ou errado, combina com a clássica posição do Itamaraty de não interferir em assuntos internos de outros países.

Por isso, há uma torcida no governo para que saia de fato uma reunião da Unasul sobre a crise na Venezuela, na esperança de que ela reproduza encontro similar, mas sobre a Bolívia, realizado em Santiago do Chile em 2008.

Naquela ocasião, o presidente Evo Morales aceitou que a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) atuasse como mediadora do diálogo entre governo e cinco governadores de oposição, que promoviam bloqueio de rodovias e ocupação de aeroportos e prédios públicos.

Morales só aceitou a mediação depois da intervenção do então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que disse que, se Morales optasse por reprimir os opositores, não haveria nada que a Unasul pudesse fazer.

Agora como então, o governo brasileiro reza para que haja um diálogo entre a oposição e o governo, dois blocos de tamanho parecido, sob pena de um confronto desastroso na fronteira norte. Essa torcida foi transmitida ao chanceler venezuelano, Elías Jaua, em sua recente passagem por Brasília.

Dessa visita ficou, no governo, a sensação de que o presidente Nicolás Maduro é sincero na sua convocação ao diálogo, pela seguinte equação:

1 - O governo venezuelano tem plena consciência da gravidade da crise econômico-social, representada por uma inflação de 56% ao ano, desabastecimento e criminalidade.

2 - Pretende, antes de mais nada, mexer no câmbio, para evitar a surreal situação em que o dólar oficial vale um décimo do valor do paralelo. Consta que Jaua disse a seus interlocutores brasileiros que nem o câmbio oficial nem o paralelo são realistas, o que é um reconhecimento implícito de que é urgente aproximar os dois valores.

3 - Mas, para atuar na economia, o governo precisa controlar a "guarimba", como a gíria local designa as manifestações diárias nos bairros de classe média e alta.

Aí é que entraria a Unasul, se conseguir replicar o modelo usado na crise boliviana seis anos atrás.

O problema para fazê-lo é que há uma nítida divisão na oposição, entre os grupos que querem "La Salida" --ou seja, usar as manifestações para derrubar Maduro-- e os que preferem acumular forças para derrubar o governo nas urnas, quando for possível.

A Unasul teria de dizer aos radicais da oposição que não há a menor chance de reproduzir na Venezuela o que ocorreu na Ucrânia, país em que a rua derrubou o presidente.

Resta o diálogo, manda o bom senso, mas bom senso é tudo o que falta na Venezuela.


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