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Análise
O que está em jogo é o direito de um país decidir seu destino
DEMÉTRIO MAGNOLI COLUNISTA DA FOLHABarack Obama alertou a Rússia de que "haverá custos" na hipótese de uma intervenção militar na Ucrânia.
A Casa Branca debruça-se sobre as opções de cancelar uma visita presidencial a Moscou, suspender negociações de um tratado comercial, excluir a Rússia do G-8.
"Custos"? Deslustrada na Síria, a palavra de Obama não valerá uma gargalhada se Vladimir Putin conseguir destruir a revolução ucraniana.
"Toda a Crimeia para mim; o restante da Ucrânia para vocês", está dizendo Putin, na interpretação dos otimistas. Se fosse assim, pouco se poderia fazer, pois a Crimeia é militarmente indefensável. Mas Putin está, realmente, seguindo a cartilha georgiana.
Na Geórgia, em 2008, Moscou ocupou as regiões secessionistas da Ossétia do Sul e da Abkhazia para pôr limites à soberania do país vizinho.
A operação militar na Crimeia articula-se com movimentos separatistas no leste ucraniano e prenuncia iniciativas de desestabilização do novo governo em Kiev. Os russos podem estrangular exportações agrícolas ucranianas e elevar a níveis insuportáveis os preços do gás natural.
"Se a Ucrânia não pode ser minha, não será de ninguém" ""essa é a declaração de Putin.
O Kremlin está dizendo que a Guerra Fria não terminou, apenas conheceu uma alteração em suas fronteiras geopolíticas. Que a Cortina de Ferro moveu-se para o leste, mas não sumiu. Contudo, para ganhar o estatuto de verdade, a mensagem está pendente da atitude de Washington.
A frota do Mar Negro, baseada em Sebastopol, é uma força de segunda linha. Os russos podem assenhorear-se das principais cidades da Crimeia, mas nada além disso.
Putin "sabe perfeitamente que nenhum de nós quer uma guerra", explicou Fiona Hill, alta conselheira americana de inteligência, durante a crise da Geórgia, antes de indagar: "O que podemos fazer?"
A Ucrânia não é a Geórgia. O país pode deixar claro que não tolerará uma operação militar fora da Crimeia, com o deslocamento de um grupo naval e de forças terrestres e aéreas da Otan. Putin também não quer uma guerra --ao menos, não uma que não possa vencer facilmente.
O que está em jogo é o direito de uma nação decidir seu destino. Os EUA e aliados têm os meios de proteger a soberania ucraniana dando ao país um mini-Plano Marshall e um caminho de acesso à União Europeia. Sem gestos ousados, uma nova Cortina de Ferro separará a Europa de uma Grande Rússia restaurada.
Odessa, a 350 quilômetros da Crimeia, é a cidade ucraniana que assistiu ao levante do Potemkin, nas jornadas revolucionárias de 1905. Seu símbolo é a enorme escadaria de granito que a liga ao porto.
Como na célebre cena de "O Encouraçado Potemkin", de Sergei Eisenstein, um carrinho de bebê está fora de controle, descendo os degraus, rumo à morte certa. O bebê se chama revolução ucraniana e só pode ser salvo pelo homem que ocupa a Casa Branca.