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Clóvis Rossi

O jogo ainda é de dois

O Brasil passa longe das grandes crises globais, que continuam nas mãos de Estados Unidos e Rússia

Para os que achamos que a política externa do Brasil está sendo, no governo Dilma Rousseff, excessivamente tímida, até omissa, convém constatar que o grande jogo internacional ainda é coisa de dois --Estados Unidos e Rússia--, mesmo depois de encerrada a Guerra Fria, com a vitória norte-americana.

Nos três grandes dossiês em curso (Ucrânia, Síria e Irã), o desenlace depende do entendimento ou da falta dele entre a única superpotência remanescente e o antigo império que se recusa a morrer.

Mesmo a China, que se tornou a segunda maior economia do mundo, interfere pouco ou nada nesse jogo. Na Ucrânia, então, não deu palpite e, pior, nem lhe foi pedido.

A nota que a chancelaria chinesa soltou sobre a crise ucraniana parece clonada das notas que o Itamaraty emite regularmente. É uma coleção de platitudes, que serve para qualquer situação.

Diz: "Condenamos o comportamento de violência extrema na Ucrânia e continuamos instando todas as partes na Ucrânia a que resolvam de forma pacífica suas disputas dentro de um marco legal e protejam escrupulosamente os direitos legais de todos os ucranianos".

Também a exemplo do Itamaraty, os chineses relembram sua tradicional política de respeito à soberania de cada país e de não ingerência.

Fica-se sem saber se a China condena a ocupação da Crimeia por forças russas, o que viola a soberania da Ucrânia, ou se acredita que as forças russas não são russas, mas milícias locais, como dizem os russos. Ou seja, a China não tem ou ao menos não expressa posição sobre o que é o fulcro da questão no momento.

Convém também lembrar que a Europa, parte diretamente envolvida na história, não está tendo um desempenho muito mais afirmativo. As retaliações à Rússia até agora aprovadas chegam a ser risíveis.

É como ironiza, em "El País", José Ignacio Torreblanca, do Conselho Europeu de Relações Exteriores: "Só falta a Europa suplicar para que Putin lhe dê uma saída honrosa".

Se um conglomerado que representa um quarto da economia mundial é tão reticente na hora de reagir a uma violação das regras internacionais, dá para exigir do Brasil, muito mais fraco e distante, que seja ativo?

Dá, pelo menos para os saudosistas do ativismo da dupla Celso Amorim/Luiz Inácio Lula da Silva. Tiveram o atrevimento de intrometer-se na questão iraniana, da qual saíram com um acordo que é parecido ao que, três anos depois, as grandes potências chegaram com o Irã.

Agora, no entanto, o Brasil é tímido até numa crise no seu quintal, a da Venezuela. Nesta, não dá para dizer que o jogo é jogado por EUA e Rússia, que não dão a mínima para a situação em Caracas, por mais que o governo venezuelano afirme que os protestos são inspirados pelos EUA.

Agir na Venezuela não é fácil, mas a omissão não é uma opção.


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