Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Clóvis Rossi

Paz ganha uma batalha, no sufoco

Legislativas na Colômbia favorecem partidários do processo de pacificação, mas dão voz a Uribe, crítico feroz

A eleição legislativa de domingo na Colômbia tinha uma importância muito superior à que normalmente se atribui a pleitos para o Congresso. Estava em jogo o apoio, maior ou menor, às negociações de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que se desenrolam até agora em Havana, Cuba, com relativo êxito.

Resultado: a paz ganhou, mas com um certo sufoco, o que se refletirá nas discussões especialmente no Senado, já que cabe ao Congresso aprovar ou não o acordo a que eventualmente chegarem o governo e os guerrilheiros.

O presidente Juan Manuel Santos, que lançou o processo negociador e é candidato à reeleição, em maio, viu seu partido (La U) ficar em primeiro lugar, com 21 senadores, dois a mais que seu antecessor, Álvaro Uribe, crítico feroz das negociações de paz.

No total, os partidos da coligação governista devem ter dois terços das cadeiras, maioria ainda confortável. Além disso, partidos de oposição, como o esquerdista Polo e os Verdes, também apoiam o processo de paz, o que eleva a maioria a ele favorável a uns 80% do Senado.

Antes da eleição, o sociólogo Alfredo Molano já dizia ao jornal "El Espectador": "Se se quer chegar à paz com as Farc, se necessita um Parlamento disposto a ela".

Foi o que se conseguiu na eleição, pelo menos na visão de Alejo Vargas, professor da Universidade Nacional: "Podemos dizer que, embora se tenha debilitado a coalizão de governo, os apoios à paz se mantêm amplamente majoritários e, portanto, há governabilidade para a paz".

O debilitamento da coalizão governista, em todo o caso, envia um sinal de alerta. O partido do presidente Santos perdeu sete cadeiras no Senado, ainda que mantenha a maioria relativa (e até absoluta, se se considerar também os que fazem parte da coalizão que o apoia).

O "El Espectador" avalia que o pleito "manda uma mensagem a Havana, de que a credibilidade do que lá se negocia não é tão forte, de que se deve avançar seriamente para convencer mais colombianos, de que o país não está disposto a dilações ou a acordos que não venham a ser inclusivos".

A façanha de Uribe de conseguir 19 senadores (incluindo ele próprio) com um partido improvisado e uma lista de nomes pouco conhecidos porá mais pimenta nos debates no Congresso, o principal dos quais tende a ser em torno do chamado Marco Jurídico para a Paz, que desenha um modelo de justiça de transição. Concretamente: trata-se de discutir qual o grau de impunidade que se dará aos guerrilheiros para que se incorporem ao processo político.

Uribe é violentamente contra a impunidade, mas, se houver punições a todos, inclusive aos líderes guerrilheiros, é pouco provável que eles aceitem um acordo de paz.

O resultado eleitoral não elimina esse dilema porque, se a maioria é favorável ao processo em si, não quer dizer que ela será idêntica quando se conhecerem na totalidade os resultados da negociação. A paz, portanto, ganhou uma primeira batalha, mas, como previne "El Espectador", "um acordo de paz não é fácil".

crossi@uol.com.br


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página