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Diplomatas criticam Brasil por omissão diante da crise ucraniana

ELIANE CANTANHÊDE COLUNISTA DA FOLHA

A comunidade diplomática em Brasília, a começar da Embaixada dos EUA, cobra posição do Brasil sobre a crise na Ucrânia e classifica de "surpreendente" o silêncio brasileiro diante do plebiscito de amanhã na Crimeia.

O embaixador da própria Ucrânia, Rostyslav Tronenko, escreveu um artigo ontem para o UOL pedindo que "o Brasil e o mundo não cedam à pressão do agressor [a Rússia], que quebrou sua assinatura de acordos internacionais fundamentais".

No texto, ele diz que o governo da Ucrânia apelou ao Brasil, "como parceiro estratégico e membro da ONU, para juntar-se à comunidade internacional para apoiar a independência, soberania e integridade territorial de nosso país (...). Temos esperança de que o Brasil apoiará as aspirações do povo ucraniano".

O embaixador lembrou que há meio milhão de brasileiros com ascendência ucraniana e clamou: "Por favor, não fiquem em silêncio".

A última manifestação do Itamaraty foi em 19 de fevereiro e se limitou a frases protocolares: "A crise política na Ucrânia deve ser equacionada pelos próprios ucranianos, de forma pacífica e com base no respeito às instituições e aos direitos humanos".

Na avaliação de diplomatas norte-americanos e europeus, não é possível falar em respeito às instituições e aos direitos humanos se a consulta será realizada com tropas e bandeiras russas por toda parte. Isso, segundo eles, é "o máximo de intervenção".

A crítica à omissão vem acompanhada do alerta de que o Brasil está perdendo voz e posições importantes conquistadas na gestão Lula.

"A reputação do Brasil está declinando", ouviu a Folha de importante diplomata estrangeiro, para quem a posição brasileira não condiz com a tradição de uma política externa defensora dos direitos humanos e dos direitos à integridade territorial.

O diplomata lamentou que o Brasil tenha se manifestado em crises como a do Egito e da Síria, mas se mantenha mudo numa questão que, para ele, pode ter efeitos muito mais danosos para o mundo.

Diplomatas confidenciam que, quando consultam o Itamaraty sobre o silêncio, recebem respostas evasivas, indicando que quem trata disso é o Planalto, diretamente.

Para esses representantes externos, a afirmação de que o Brasil não quer atritos com a Rússia, parceira no Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) não se sustenta --a China, por exemplo, se manifestou firmemente.

Citam, ainda, que a Europa tem muito mais a perder ao contrariar Moscou, por causa do fornecimento de gás, mas que não se omitiu.

No caso dos EUA, os diplomatas dizem que várias vezes o Brasil criticou Washington e discordou de posições americanas sem problemas, como parte do jogo diplomático e democrático. Por que não pode fazer o mesmo agora em relação à Rússia, num momento crucial?, perguntam.

Consultado, o Itamaraty tratou a questão como crise dentro da Ucrânia e produziu uma resposta lacônica: o Brasil não se imiscui em assuntos internos de outros países.


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