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Governo palestino persegue oposição e censura mídia

Jornalistas e acadêmicos relatam casos de repressão e prisão a quem critica direção da Autoridade Palestina

Cisjordânia é igual a todos os países árabes, mas mídia ocidental não mostra a verdade, diz professor

DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM

Negociadores discutem, há meses, a possível criação de um Estado palestino, concretizando a ambição de décadas do movimento nacionalista. Mas os que olham um pouco adiante, na hipótese de haver um acordo, podem enxergar um país bastante diverso daquele sonhado.

Em sua limitada gestão do território da Cisjordânia, a ANP (Autoridade Nacional Palestina) enfrenta um rol de acusações que incluem cercear a imprensa, intimidar a oposição e enriquecer a partir de doações internacionais.

Enquanto veículos estrangeiros, como a Folha, têm livre acesso aos territórios palestinos, jornalistas locais relatam uma política de detenções e interrogatórios àqueles que publicam notícias contrárias ao poder da ANP.

Mamdouh Hamamreh tornou-se ícone da perseguição a jornalistas. Ele foi preso, em 2010, por publicar no Facebook uma imagem comparando o presidente palestino Mahmoud Abbas ao vilão de uma série de TV síria.

Após acumular 56 dias de cárcere, incluindo uma outra detenção em 2012, ele foi solto a pedido de Abbas.

"Ser preso por palestinos é mais difícil do que quando somos detidos por Israel", diz Hamamreh à Folha. "A ANP está aqui para me proteger, e não para me violar."

O governo palestino usou contra ele, no caso do Facebook, lei jordaniana que pune quem fala contra a coroa. Abbas, eleito em 2005, deveria ter deixado o poder em 2009, mas as eleições ainda não foram agendadas.

O jornalista diz que, enquanto o Exército israelense dificulta seu trabalho em campo, a liderança palestina tenta impedir que ele reporte temas como detenções políticas.

Hamamreh trabalha para a rede televisiva Al Quds, ligada à facção Hamas, que hoje controla a faixa de Gaza. A ANP, porém, é ligada à facção rival Fatah, no poder na Cisjordânia. Jornalistas dos dois lados são alvos de repressão.

"As forças de segurança palestinas me interrogaram diversas vezes", afirma Akram Natsheh, também da Al Quds. "Eles querem nos pressionar e mostrar que estão no controle", diz Natsheh.

Dois acadêmicos dissidentes afirmam que há também nas universidades uma política de silêncio, diante de boicotes a professores que se indispõem com a alta cúpula.

"Você dificilmente encontra acadêmicos que falem contra a ANP. Nós somos como todos os outros países árabes, mas a mídia ocidental não diz a verdade", afirma Abdel-Satter Qassem, que até recentemente lecionava na Universidade al-Najah, em Nablus.

Qassem diz que a Cisjordânia é governada por "gângsteres" e que sua dissidência resultou em uma tentativa de assassinato e na destruição de seu carro em quatro ocasiões.

"A ANP arruinou tudo. A situação era melhor durante a ocupação israelense [até 1993]. Eles feriram as estruturas financeiras e morais", diz.

A oposição do professor Abdel Samara ao governo resultou em boicote acadêmico. "Não consigo mais lecionar em universidades", diz.

"Caso a mídia internacional se concentrasse em relatar a crise na ANP, doadores internacionais deixariam de dar dinheiro", afirma. O fluxo de auxílio externo motiva a piada, nas ruas palestinas, de que "a Cisjordânia é a maior ONG do mundo".

MÍDIAS SOCIAIS

Para Moussa Rimawi, diretor do Centro Palestino para o Desenvolvimento e a Liberdade de Imprensa, as violações à liberdade de expressão na Cisjordânia ocorrem após décadas de estrangulação pela ocupação israelense.

Segundo relatório da organização, Israel cometeu 151 violações contra jornalistas palestinos em 2013. Foram 50 em Gaza no mesmo período, pelo Hamas, e 28 na Cisjordânia, pela polícia.

"Depois da Primavera Árabe, em 2011, passou a haver uma censura à internet na Cisjordânia", diz Rimawi.

"Como em qualquer país de Terceiro Mundo, as forças de segurança pensam que estão ajudando o governo ao prender jornalistas."


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