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Julgamento em NY 'ressuscita' o Occupy

Membros de movimento contra desigualdades se reencontram em corte onde uma de suas líderes é julgada por agressão

Em 2011 e 2012, grupo surgido em parque da cidade originou ações que se espalharam pelo país até perderem força

ISABEL FLECK DE NOVA YORK

Em mensagem convocando seus integrantes a dar apoio a uma colega que está sendo julgada nesta semana, a liderança remanescente do Occupy Wall Street orientou: "Venham com traje business casual' e permaneçam com postura calma e respeitosa na sala do tribunal".

A ordem foi cumprida. Ocupando quatro fileiras de bancos, entre 20 e 30 jovens com roupas mais alinhadas que de costume acompanharam em silêncio os depoimentos dos últimos dias. Só conversaram nos curtos intervalos, para os quais levam bagels, barrinhas de granola, frutas e café.

Também obedeceram à ordem do juiz de retirar os corações de papel rosa presos à roupa, em sinal de apoio a Cecily McMillan, 25, acusada de agredir um policial em um protesto em março de 2012.

Há dois anos e meio, boa parte estava acampado no parque Zuccotti, ao lado de Wall Street, com trajes e atitudes bem menos formais.

A luta contra o "1% mais rico" foi barulhenta e se espalhou, em manifestações contra a desigualdade. Hoje, alguns integrantes acham que o grupo deveria ter resistido mais naquela época, outros têm esperança de que o movimento volte a se abrigar em barracas no futuro e todos sentem saudades dos dois meses de ocupação --entre setembro e novembro de 2011.

"O fracasso do Occupy foi porque nós não fomos capazes de manter o nosso espaço. Fomos retirados e voltamos para casa. Desde então foi um declínio, não conseguimos trazer mais gente", lamenta o escritor Thadeaus Umpster, 33.

O julgamento de Cecily serviu como um reencontro entre os ex-manifestantes, cujo principal contato agora é pelas redes sociais. Nos últimos dois anos, a militância se dispersou e os jovens passaram a adotar as mais diversas bandeiras, seja a defesa de "presos políticos", como o hacker Jeremy Hammond (por ataques a sites do governo), ou da banda russa Pussy Riot.

Umpster se dedica agora a distribuir poesias encadernadas e a colaborar em jantares comunitários que utilizam alimentos descartados por mercados em Nova York.

"Nós usamos o consenso sobre as causas a serem adotadas. Basta as pessoas apoiarem e terem energia para aquilo", explica.

Para a musicista Eve Silber, 50, o julgamento é um "bom exemplo" do que aconteceu com o movimento. "O movimento se transformou de algo que aconteceu nas ruas e envolveu centenas de pessoas em várias redes de pessoas que não estão nas ruas. Mas seguimos trabalhando em muitas coisas", disse.

Desde o início deste ano, os membros do Occupy realizaram três festas para arrecadar fundos para a defesa de Cecily, que pode pegar até sete anos de prisão.

Os encontros no tribunal também servem para falar de temas de interesse geral: o valor dos impostos, a opressão contra a mulher, a violência policial (Cecily alega que acertou o olho do agente com o cotovelo porque ele teria tocado em seu peito durante a retirada dos manifestantes).

A descentralização, entretanto, provoca ruídos na mensagem. Muitos não querem falar em nome do Occupy. Os poucos que concordam em dar declarações são desautorizados por outros integrantes. "Você não deveria usar isso como uma visão do grupo", sussurrou um dos presentes, que não quis se identificar, à Folha.

Na hora de fazer uma foto para a reportagem, eles se desentenderam sobre se deveriam empunhar ou não os cartazes trazidos por um grupo de feministas não ligado ao Occupy. Afinal, ali eles são apenas uma dúzia de integrantes --e alguns nem participaram do acampamento no Zuccotti. Nas redes sociais, são dezenas de milhares.

Para Umpster, é "inevitável" que as pessoas se reúnam novamente, no futuro. "Mas é difícil saber o que vai catalisar isso. Pode ser até a questão do preço do transporte público, como no Brasil."


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