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Mães de cidade na Nigéria vivem rotina de medo e sofrimento

Em Chibok, onde estudantes foram sequestradas pelo Boko Haram, não há solução à vista para a violência

Omissão do governo estimulou movimento global de solidariedade; as mães, porém, não se sentem reconfortadas

ADAM NOSSITER DO "NEW YORK TIMES", EM CHIBOK, NIGÉRIA

As mulheres saíram em disparada, com angústia estampada em seus rostos. Muitas estavam chorando. Apesar do lamento coletivo, as autoridades que estavam viajando com um dignitário local as empurraram de volta aos seus lugares, pedindo silêncio para que ele falasse.

Mudas, de cabeça baixa, as mães de Chibok se ajoelharam e ergueram as mãos como numa prece, em meio aos restos calcinados da escola secundária feminina da cidade. Suas filhas foram sequestradas nesse lugar desolado e levadas à mata vizinha por membros do Boko Haram.

A cidade de Chibok, perdida no matagal do nordeste da Nigéria e conectada aos demais centros do país pela estrada na qual a presença do Boko Haram é mais densa, foi tomada pelo medo e pela dor.

"Estamos sofrendo demais", diz Mary Dawa, cuja filha, Hawa Isha, 16, é uma das desaparecidas. "Todo dia, sinto pesar profundo. Não tenho vontade de comer".

Há o medo de que as meninas estejam sendo submetidas a casamentos forçados, exacerbado por um vídeo divulgado na semana passada em que o líder do grupo ameaçava "vendê-las no mercado".

Percorrer a estrada, boa parte dela uma trilha de terra, ajuda a compreender o quanto a região é vulnerável. Ela é pontuada por carcaças de escolas incendiadas pelo Boko Haram, destroços de carros atacados pelos militantes e aldeias abandonadas pelos habitantes depois de suas casas serem destruídas.

Há pouco tráfego, e a polícia diz que os islâmicos estão à espreita no matagal vizinho. A presença das Forças Armadas é pequena. Há postos ocasionais de vigilância ""em Damboa, a meia hora de distância, há uma base militar, mas os soldados não confrontaram os sequestradores.

A área é sitiada pelo Boko Haram há cinco anos, e parece não haver solução a caminho. Para o governo, a despeito de um orçamento de defesa de US$ 5 bilhões, é como se o problema fosse em outro lugar, embora mais de 1.500 já tenham morrido devido à violência na região, segundo a Anistia Internacional.

O contraste entre o pesar das mães e a resposta pouco interessada de autoridades nigerianas ajudou a deflagrar um movimento mundial de solidariedade. O presidente Goodluck Jonathan demorou quase três semanas a tratar da questão publicamente.

As mães, porém, pareciam só vagamente cientes dos esforços ou protestos internacionais e não muito reconfortadas por eles. Suas filhas continuam desaparecidas.


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