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Clóvis Rossi

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Venezuela, Brasil e EUA

A Unasul está obrigada a agir para evitar o colapso do diálogo governo-oposição, que a tornaria irrelevante

Digamos que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tenha razão em considerar "escandalosa" a posição dos países latino-americanos (o Brasil, entre eles) em relação à crise na Venezuela

De fato, no período Hugo Chávez, de 2009 em diante, a democracia foi comida pelas bordas, mas permaneceu um miolo que impede que se aplique a ele o rótulo de ditadura, a não ser, é claro, pelos oposicionistas mais radicais, dentro e fora da Venezuela.

Este ano, no entanto, o governo Nicolás Maduro avançou em direção ao meio do prato democrático. Avanço que fica claro nos relatórios sobre abusos praticados pelas forças repressivas emitidos pela Human Rights Watch, pela Comissão de Direitos Humanos da ONU e a menção à torturas sistemáticas no documento da Anistia Internacional.

Basta citar um dado objetivo: desde o inicio do diálogo com a oposição, faz pouco mais de um mês, 686 pessoas foram detidas pelas autoridades, quando um dos objetivos do diálogo, ao menos de parte da oposição, era precisamente obter a liberdade dos que já haviam sido detidos por participar anteriormente de manifestações pacíficas, direito que democracias normais admitem.

Portanto, fica claro que deveria haver uma reação dos países sul-americanos, como pede FHC. Mas qual reação?

A primeira delas foi correta: a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) foi instrumental para fazer com que governo e oposição se sentassem à mesa, no que parece ser o único caminho para pacificar o país, caso as partes ajam responsavelmente.

Acontece que, na terça-feira (13), a MUD (Mesa de Unidade Democrática), representação política da oposição, suspendeu sua participação no diálogo, alegando que o governo simplesmente não faz nada para dar consequência ao acertado nas três rodadas de diálogo já realizadas.

O que fazer agora, então? O pior que poderia ocorrer seria permitir que os Estados Unidos imponham sanções à Venezuela, como pretendem alguns congressistas influentes, mas o governo Obama rejeita, por enquanto.

O colunista Rafael Poleo, crítico constante do governo, diz que as "seria contraprodutivo e ajudaria o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela, o partido governista) se as mãos dos Estados Unidos aparecessem no caso venezuelano, que nós, venezuelanos, estamos manejando bem" (a frase final é altamente discutível, mas passemos).

Reforça o blogueiro David Smilde, do Washington Office on Latin America: as sanções "causariam um curto circuito no processo de diálogo, mobilizariam a linha dura chavista e evitariam que funcionários do governo fizessem concessões importantes".

Fecha Smilde: "Pior ainda, desarmaria a capacidade da Unasul de manter o governo Maudro à mesa de negociação".

Dessa avaliação, dá para deduzir uma linha de conduta para a Unasul: pressionar privadamente o governo venezuelano a ser sério na negociação e a respeitar os direitos humanos, o que permitiria retomar o processo de diálogo, única forma à vista de atenuar a crise e evitar remeter a Unasul à irrelevância.

crossi@uol.com.br


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