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Eleição colombiana vira plebiscito para acordo com as Farc

Negociação de paz divide a população, que não parece disposta a aceitar concessões como anistia para presos

Os milhões de cidadãos obrigados a deixar suas casas devido ao conflito sinalizam a dificuldade de solucionar a questão

SYLVIA COLOMBO ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ

Segurando a ponta de uma cadeira de plástico na mão e enrolado numa manta quadriculada, Julio Díaz, 22, parecia buscar algo entre os restos do acampamento desmontado pela polícia na noite da última quarta-feira (21), na praça Bolívar, centro de Bogotá. "Estou procurando nosso forno elétrico", disse o trabalhador agrícola de Meta (região central da Colômbia).

Na madrugada anterior, Díaz e um grupo de mais de 300 pessoas haviam sido desalojados pela polícia numa tentativa de preparar o local para receber um centro de votação para a eleição deste domingo (25). Seu irmão menor de idade foi levado pela polícia a um abrigo. O resto da família o esperava numa periferia da cidade.

O problema dos mais de 5 milhões de "desplazados" internos, pessoas obrigadas a sair de suas casas no interior da Colômbia e buscar abrigo em grandes cidades, é um dos principais desafios do próximo presidente.

Com mais de 80% deles vivendo em condições de pobreza extrema, trata-se de uma das consequências sociais mais graves da guerra contra o narcotráfico, que causou cerca de 300 mil mortes nos últimos 30 anos.

Os "desplazados" deixam o local de origem por conta das ameaças, das mortes de familiares ou de extorsões sistemáticas, todas provocadas pela guerrilha ou pelos grupos paramilitares que atuam no interior.

A Colômbia é atualmente o país que possui o mais alto índice de deslocados internos no mundo, à frente do Sudão e do Iraque, segundo dados da ONU.

"É por essa população extremamente vulnerável que precisamos alcançar a paz", disse em sua campanha o atual presidente Juan Manuel Santos, que concorre a um segundo mandato.

Durante o governo Santos foi aprovada a Lei de Vítimas, que reconhece e promove reparação aos que foram forçados a deixar suas casas como consequência da guerra.

Os "desplazados" consideram, porém, que a lei ainda não atende a todas as suas necessidades. O acampamento no centro de Bogotá foi criado para reivindicar mais recursos para o problema.

PAZ

Há 18 meses, o governo começou uma negociação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para tentar colocar um ponto final no conflito.

A princípio com respaldo popular, a negociação foi ganhando rejeição por parte da sociedade. Santos afirma que é necessário fazer concessões, como dar anistia a criminosos e permitir que ex-guerrilheiros sejam eleitos.

Por conta disso, o candidato apadrinhado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, Óscar Iván Zuluaga, subiu nas pesquisas, com um discurso linha-dura que propõe a suspensão do diálogo e a volta da repressão ao conflito.

As pesquisas divulgadas na semana passada apontam um empate técnico entre ambos, o que deve provocar um segundo turno, no próximo dia 15 de junho.

"Temos um pequeno rancho perto de Buenaventura (região portuária), mas não dá para ficar lá. Cobram imposto de tudo o que a gente consegue levar ao mercado", disse um dos "desplazados" ouvidos pela Folha, que não quis se identificar.

Em Bogotá, ele tem a esperança de encontrar um emprego na área de construção. "Acho que minha mulher vai cuidar dos filhos de alguma família rica. Só queria que o Estado cuidasse dos meus enquanto tentamos sobreviver."

Apesar de existirem programas de assistência aos mais de cem "desplazados" que chegam a Bogotá todos os dias, não há como atender a uma demanda tão alta.

Aqui, e em outros centros urbanos do país, é possível vê-los embaixo de pontes, em parques e vias públicas. Estima-se que apenas a metade procura registrar-se nos programas governamentais, enquanto os demais se encaminham a bairros da periferia.

Os "desplazados" voltaram à praça na quinta-feira (22), mas foram outra vez removidos, no sábado de manhã, para permitir a instalação de mesas de votação no local, onde deve votar o presidente Juan Manuel Santos. Alguns ficaram nos quarteirões ao redor, outros foram levados a abrigos, e muitos foram para acampamentos na periferia de Bogotá.


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