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Análise

Imagem de caçador de elefantes borrou a de um rei democrata

Alto desemprego e escândalos derrubaram a popularidade da monarquia

ROBERTO DIAS SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO

Em fevereiro passado, um documentário chocou os espanhóis.

Ele falava sobre a tentativa de golpe de Estado de 1981, conhecida como o "23-F" (referência à data, 23 de fevereiro). A ação foi encabeçada por um grupo de militares que invadiu o Congresso e disparou tiros no plenário. A reação do rei Juan Carlos desmontou o golpe, e o episódio entrou para os grandes momentos de sua biografia.

Só que o documentário dizia que a história não tinha acontecido bem assim. "Operación Palace" sustentava que o 23-F fora uma grande armação montada por vários partidos políticos e pela Casa Real.

Transmitida num domingo pela TV, a narrativa eletrizou os espanhóis. Políticos e jornalistas discutiam freneticamente o programa em redes sociais até que, no fim da noite, o diretor do documentário revelou a verdade: tudo não passava de uma brincadeira ao estilo da "Guerra dos Mundos" de Orson Welles.

A farsa acabou mostrando como a imagem heroica daquele episódio já vai borrada na memória dos espanhóis.

Os melhores momentos das quase quatro décadas de reinado de Juan Carlos aconteceram muito tempo atrás. Esses momentos incluem o 23-F e os anos de transição para a democracia após a ditadura franquista, na segunda metade da década de 70.

São passagens que não dizem muita coisa para os jovens espanhóis hoje sem trabalho --o índice de desemprego entre os menores de 25 anos supera os 50%.

A realeza que essa geração conheceu tem imagem bem menos edificante. Os jovens espanhóis viram um Juan Carlos incapaz de desempenhar na crise econômica qualquer papel parecido ao que tivera nas crises políticas de décadas atrás.

O noticiário da família real tem sido dominado por escândalos. O mais grave deles é o caso Urdangarin, como é chamado o genro de Juan Carlos acusado de corrupção. Seu nome foi até apagado da página oficial da monarquia espanhola.

Juan Carlos também se enroscou pessoalmente ao aparecer caçando elefantes em Botsuana, num safári que lhe custou a presidência honorária da ONG ambientalista WWF. O rei acabou pressionado a fazer um inédito pedido de perdão.

Pedido que, pelo visto, não teve grande efeito. O rei deixa o cargo no momento de maior impopularidade da monarquia: o grau de confiança na realeza é metade do índice de 20 anos atrás, segundo o instituto CIS.


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