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Afável, monarca foi preparado por ditador Franco para se tornar chefe de Estado

CLÓVIS ROSSI COLUNISTA DA FOLHA

Juan Carlos Alfonso Victor María de Borbón y Borbón foi cevado pelo ditador Francisco Franco para ser o rei que daria sobrevida ao franquismo após a morte de Franco, mas acabou se tornando o principal artífice da consolidação da democracia espanhola ao rejeitar a tentativa de golpe do coronel Tejero em 81, quando a democracia era ainda tenra e, por isso, frágil.

Que Franco assumiu a educação do que viria a ser o rei fica evidente pelo empenho em fazê-lo cursar as academias militares das três Forças (Exército, Marinha e Aeronáutica), todas elas impregnadas pela versão espanhola do fascismo, que era o franquismo, vitorioso na guerra civil de 1936/39.

Completou sua formação na Universidade Complutense de Madri, onde cursou direito político e internacional, economia e fazenda pública.

O período republicano foi o responsável pelo fato de Juan Carlos ter nascido na Itália, em 1938. Seu avô, o rei Alfonso 13, havia sido o último antes da república, mas deixou a Espanha em 1931, levando a família. Morreu no exílio dez anos depois, mas renunciou ao trono em favor do filho, o conde de Barcelona, também Juan Carlos.

Embora tivesse iniciado a guerra em nome da monarquia, Franco logo perdeu o apoio do conde de Barcelona, razão pela qual decidiu cultivar o filho, a quem designou, em 1969, como futuro rei, passando por cima dos direitos do pai do monarca. Juan Carlos, que até então dizia que o rei era o pai, acabou aceitando a designação, mas só se tornou rei de fato dois dias depois da morte de Franco, em 22 de novembro de 1975.

Como chefe de Estado, foi instrumental na bem-sucedida transição para a democracia, que se completou com as primeiras eleições livres em 41 anos, realizadas em 1977.

Quatro anos depois, um grupo de militares, liderado pelo coronel Tejero, invadiu as Cortes (o Parlamento) a tiros para tentar enterrar a jovem democracia. Foram horas de extrema tensão, até que o rei, chefe das Forças Armadas, foi à TV desautorizar o levante, que murchou.

Afável, pouco afeito aos excessos da monarquia, o rei tornou-se crescentemente popular, como garante da democracia e caixeiro-viajante da marca Espanha, em incontáveis viagens ao exterior.

Jovial, brincou com os jornalistas, nas vésperas de uma sétima internação para tratar de problemas ortopédicos, que no dia seguinte iria para "a oficina" [mecânica].

A afabilidade, por vezes, deu lugar a desabafos bem pouco reais, como aconteceu numa cúpula ibero-americana em 2007: após repetidas críticas de Hugo Chávez ao ex-premiê espanhol José Maria Aznar, a quem o venezuelano chamou de "fascista", Juan Carlos, denotando irritação, disse asperamente: "Por que você não se cala?". Em seguida, deixou a sala.

Juan Carlos sempre foi praticante de vários esportes, sobretudo náuticos, o que ajudava a criar uma imagem simpática. Mas foi numa incursão à África para praticar outro esporte, a caça, que se deu um incidente que começou a arranhar sua imagem.

Foi fotografado atirando em elefantes e sofreu uma queda. Sua assistente foi a primeira a acudir, dando margem a rumores de que era mais que uma assistente, uma tema que a mídia espanhola jamais levou adiante, ao contrário do que ocorre no Reino Unido.

O rei, pela primeira vez, se viu forçado a pedir desculpas (pela caçada, não pelo suposto caso).

A imagem, não do rei propriamente, mas da família real, foi muito mais arranhada por um escândalo de corrupção envolvendo Iñaki Undangarin, marido da infanta Cristina. Arrasta-se ainda nos tribunais.


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