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Madri tem manifestações pelo retorno da república
Milhares pedem a realização de um referendo sobre a forma de governo
País já foi republicano no século 20; mudança, porém, é difícil, pois os maiores partidos são defensores da realeza
Enquanto se iniciavam os trâmites para a sucessão real, espanhóis descontentes com o regime convocavam manifestações por todo o país pela realização de um referendo para decidir se a monarquia continua ou não.
Na capital Madri, o ponto de encontro foi a Porta do Sol, onde havia pelo menos 16 mil presentes. Muitos empunhavam a bandeira vermelha, amarela e azul da república espanhola.
"Nós, democratas espanhóis, quando aceitamos a monarquia nos anos 70, pensávamos que era melhor uma democracia vigiada que um golpe de Estado, mas pensamos que o reinado seria provisório, não que ia durar quase 40 anos", declarou o arquiteto Julián Salas Serrano, 71.
Sua sobrinha, a produtora de cinema Nadia Hotait, 31, resumiu o sentimento de muitos: "Quero que vejam que não somos poucos".
Empunhando a bandeira do Partido Socialista, Jesus García Burgo, 54, também se disse insatisfeito. "Somos muitos os descontentes."
A abdicação chega em um momento de crise de popularidade da monarquia espanhola. "Especialmente para os mais jovens, a monarquia não faz mais sentido", afirmou o historiador José Carlos Rueda Laffond, da Universidade Complutense de Madri.
"Não votamos pela monarquia, não foi uma escolha nossa", disse Kike Soer, 29, técnico em logística.
A má avaliação da coroa vem acompanhada de um maior interesse pelas ideias republicanas.
Sondagem do "El País" mostra que, se em 1996 a monarquia tinha vantagem de 53 pontos sobre a república, em 2012 a distância havia caído para 17 pontos (53% preferiam a monarquia e 37%, a república).
"A monarquia é um modelo baseado em princípios mais do século 17 que do século 21. Não é aceitável que o chefe de Estado seja definido por herança, porque alguém é filho de outra pessoa", disse Juan Lopez, porta voz do Equo, um dos partidos políticos espanhóis que já declararam apoio à realização do referendo.
O grande impasse, avalia o historiador Gutmaro Gomez Bravo, é que a vontade de mudança não está refletida nos dois partidos majoritários no Parlamento espanhol --o Socialista e o governista Partido Popular, de centro-direita. "Eles não vão permitir essa mudança. Seria necessário mudar primeiro os representantes parlamentáres."
Com a previsão de que os trâmites para que Felipe assuma possam prorrogar-se até o fim do mês, a expectativa é de que manifestações continuem. Uma petição on-line pró-referendo reuniu mais de 135 mil assinaturas.